Além de prisão de sucessor de líder, outro filho está sob custódia da oposição; unidade que protege Kadafi e capital se rende
À esq., Saif al-Islam, apontado como sucessor de Muamar Kadafi, e à dir. Saadi, o terceiro filho do líder líbio. Os dois foram capturados por forças rebeldes
Saif al-Islam, filho de Muamar Kadafi, foi capturado, disse o chefe do Conselho de Transição Nacional (CNT, órgão político dos rebeldes líbios) em uma entrevista à rede de TV árabe Al-Jazeera. "Temos informações confirmadas de que nossos membros capturaram Saif Al-Islam", disse Mustapha Abd El Jalil, referindo-se ao filho sempre apontado como provável sucessor de Kadafi. "Demos instruções para tratá-lo bem para que possa ser levado perante a Justiça."
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Mais tarde, a prisão de Saif foi confirmada pelo Tribunal Penal Internacional, que em junhoemitiu um mandado de prisão contra ele pela repressão na Líbia contra o levante popular. O promotor do TPI em Haia, Holanda, disse que contataria os rebeldes para discutir a extradição de Saif para a corte, onde será julgado por crimes contra a humanidade.
Além de Saif, Saadi também estão sob custódia da oposição. Outro filho, Mohammed, estava em contato com os rebeldes pedindo garantias para sua segurança, disse o porta-voz Sadiq al-Kibir. Mohammed, que está encarregado das telecomunicações líbias, apareceu na Al-Jazeera, dizendo que sua casa foi cercada por rebeldes armados. "Eles garantiram minha segurança. Sempre desejei o melhor para os líbios, e sempre estive ao lado de Deus", disse. Perto do fim da entrevista, era possível ouvir o som de disparos, e, antes de a linha de telefone ser cortada, Mohammed disse que rebeldes entraram em sua casa.
O anúncio das prisões foi feito em meio ao avanço rebelde na capital, Trípoli, depois de seis meses de guerra civil e no último passo para pôr fim ao regime de 42 anos de Kadafi, cujo paradeiro é desconhecido. De acordo com o Ministro da Informação líbio, Moussa Ibrahim, os confrontos em Trípoli deixaram 1,3 mil mortos e 5 mil feridos. A informação não pôde ser confirmada por fontes independentes.
De acordo com o ministro de Informação dos rebeldes, Mahmoud Shammam, o caminho dos opositores para Trípoli foi aberto quando a unidade militar encarregada de proteger Kadafi e a capital se rendeu. Waheed Burshan, um porta-voz do CNT, disse que os rebeldes agora "controlam a maior parte da capital". O embaixador da Líbia na ONU, que desertou do regime, disse à BBC que os rebeldes teriam o controle de 90% da capital. De acordo com a Al-Jazeera, residentes de uma área de Trípoli sob controle rebelde saíram às ruas para comemorar os acontecimentos, enquanto rebeldes celebram na Praça Verde, no centro da capital.
Além das imagens de celebração, a rede de TV também transmitiu o que parece ser o terceiro áudio de Kadafi desde sábado, em que voltou a conclamar seus partidários, particularmente os líderes religiosos, a defender Trípoli dos rebeldes e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em nome do islã.
Avanço rebelde
Vindos do mar a partir de Misrata, a 200 km a leste de Trípoli, e por terra a partir das cidades conquistadas no oeste do país, centenas de rebeldes líbios entraram na capital desde sábado. Confrontos intensos ocorreram em diversos pontos da cidade neste domingo, de acordo com jornalistas que viajam com os rebeldes. Segundo a Associated Press, os rebeldes estão a apenas três quilômetros do centro da cidade. Já de acordo com Zeina Khodr, correspondente da Al-Jazeera que chegou à capital com os rebeldes vindos de Zawiya, os militantes da oposição agora batalham contra as forças do governo na Praça Verde, perto do centro da cidade.
Em meio aos acontecimentos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) afirmou neste domingo que o regime de Kadafi "desmorona". "O que estamos prestes a ver nesta noite é o desmoronamento do regime", disse à AFP a porta-voz da Otan, Oana Lungescu.
"Quanto mais cedo antes Kadafi se der conta de que não tem possibilidade alguma de vencer, melhor para todos. O regime está claramente em seu último estágio", disse. "Vemos pessoas fazendo suas bagagens, três pessoas de alto escalão desertaram nos últimos dias, e o território controlado por Kadafi encolhe diante de nossos olhos", afirmou Oana. Mais de 4 mil alvos militares foram danificados ou destruídos nos quatro últimos meses pela Aliança Ocidental, informou sem fornecer mais detalhes.
À medida que os rebeldes chegaram a Trípoli, eles foram saudados por uma multidão de civis nas ruas, que gritavam frases contra o regime de Kadafi e agitavam a bandeira dos rebeldes. Horas antes, as forças antigoverno haviam tomado o controle de postos militares nas vias de acesso a oeste de Trípoli, onde pegaram armas e munições. Outro grupo de rebeldes levantou bases de controle nos subúrbios a leste da capital, intensificando o cerco às forças de Kadafi em Trípoli.
Apesar do avanço rebelde em direção ao complexo de Bab al-Aziziya, de Kadafi, o líder líbio disse previamente que ficará em Trípoli "até o fim" e conclamou seus partidários, em um áudio transmitido na televisão estatal líbia, a lutar contra os infieis e "libertar" a terra. Em sua segunda alocução em menos de 24 horas, Kadafi ordenou que fossem disponibilizados os depósitos de armas e arsenais de Trípoli para os cidadãos para que estes "defendam a capital".
"Lutaremos até liberarmos cada centímetro de terra e evitar que ela seja ocupada. Estou com vocês nessa batalha. Não entregaremos Trípoli para os colonialistas e traidores", disse Kadafi. "Saiam às ruas aos milhares. Os que não tiverem armas devem nos procurar para receber uma. As massas devem se armar."
Também em tom de desafio, Ibrahim afirmou que milhares de mercenários e voluntários estão dispostos a defender a capital. "As pessoas não são somente patriotas, mas também têm famílias e casas que devem proteger e compreendem que, se os rebeldes entrarem, haverá derramamento de sangue", disse.
Ibrahim acusou os rebeldes de massacrar a população de cidades e vilarejos nos últimos dias. Ao mesmo tempo, ele fez um apelo para que os rebeldes aceitem negociar. "Se vocês querem paz, estamos prontos", disse. Ibrahim também acusou a Otan de "abrir estradas para os rebeldes, que são fracos demais para fazer qualquer coisa sozinhos".
O cerco dos rebeles à Trípoli se intensificou desde sexta-feira, quando conquistaram cidades importantes perto da capital que até então estavam sob domínio do governo. Entre elas estão Zawiya, a 50 quilômetros a oeste de Trípoli, e Zlitan, a 160 quilômetros a leste.
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