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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Glauber apresentou em Brasília o Estatuto de Proteção Civil


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Nos dias 10 e 11 de novembro, aconteceu na Câmara dos Deputados, o Seminário Nacional sobre Proteção Civil – Perspectivas para o Brasil. O objetivo do encontro foi promover um amplo debate sobre a Defesa Civil Brasileira. O Seminário foi uma das ações da Comissão Especial de Medidas Preventivas Diante de Catástrofes, que desde março desse ano vem estudando formas de prevenir e reconstruir cidades afetadas por catástrofes naturais.
O Relator da Comissão Especial, o Deputado Federal Glauber Braga (PSB/RJ), é morador de Nova Friburgo, cidade mais afetada pela maior catástrofe natural do Brasil. Glauber buscou em diversas cidades do país e do exterior, informações para escrever o Estatuto de Proteção Civil. O Relator desenvolveu o estudo baseado em um tripé de informações: ouvir comunidades atingidas, procurar técnicos especialistas nacionais e internacionais e analisar os 117 projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional sobre o tema. Além disso, o Relator fez reuniões em diversas cidades do Estado do Rio com agentes da Defesa Civil para colher sugestões do que deveria contar no Estatuto.
Glauber apresentou a proposta do Estatuto de Proteção Civil no dia 11 de novembro. Além do Deputado Glauber estiveram presentes diversas autoridades entre elas, o Fernando Bezerra de Souza, Ministro de Estado da Integração Nacional, representando a Presidenta Dilma Rousseff; Ministro Milton Rondó Filho, Coordenador-Geral de Ações Internacionais de Combate à Fome do Ministério das Relações Exteriores; Marcos Túlio de Melo, Presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – Confea; Coronel Humberto Viana, Secretário Nacional de Defesa Civil; Dr. Ricardo Mena, representante da ONU, Chefe do Escritório das Américas da Estratégia Internacional de Redução de Desastres das Nações Unidas (EIRD); representantes da Defesa Civil de alguns estados, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul. O governo do Rio de Janeiro não enviou representante embora a região serrana ainda esteja sofrendo com as chuvas de janeiro/2011.
Comissão especial vai propor criação de marco legal para a Defesa Civil
A Comissão Especial de Medidas Preventivas Diante de Catástrofes vai propor a criação de um marco legal para a Defesa Civil. O pré-projeto do Código de Proteção Civil deve ser apresentado até o final deste mês, quando os parlamentares que compõem a comissão poderão apresentar sugestões à proposta.
A informação é do relator da comissão especial, deputado Glauber Braga (PSB-RJ), após audiência pública realizada nesta quarta-feira. Glauber Braga afirmou que o objetivo é estabelecer responsabilidades nas três esferas de governo em caso de catástrofes.
Segundo o parlamentar, a proposta vai definir, no momento de uma tragédia, qual o papel da prefeitura, dos estados e do governo federal, bem como a possibilidade de percentuais a serem incluídos pelos nos orçamentos dos entes federados para a prevenção de desastres naturais.
“O projeto vai incluir também a possibilidade – entre um dos pontos que eu posso adiantar – da inclusão no plano diretor dos municípios da necessidade de se ter a elaboração obrigatória dos mapeamentos das áreas de risco. Isso com certeza vai estar no relatório", informou o parlamentar.

Portal PSB entrevista Carlos Siqueira sobre o XII Congresso Nacional




O Partido Socialista Brasileiro (PSB) realizará nos próximos dias 2 e 3 de dezembro o XII Congresso Nacional. De acordo com o primeiro-secretário Nacional do PSB e presidente da Fundação João Mangabeira (FJM), Carlos Siqueira, os temas principais do Congresso são: A Questão Urbana no Brasil e as Eleições Municipais. “Estamos às vésperas de um ano eleitoral e a bandeira da reforma urbana vendo sendo definida pelo PSB há alguns anos. Queremos um novo caminho para as nossas cidades”, afirmou o socialista. Além do debate, Carlos Siqueira explicou em entrevista para o Portal PSB Nacional que Jamil Haddad e Nelson Mandela serão os grandes homenageados deste Congresso.  Confira abaixo a íntegra da entrevista.
Portal PSB: O PSB realizará o XII Congresso Nacional nos próximos dias 2 e 3 de dezembro. Qual será o principal tema desse Congresso?
Carlos Siqueira:O Congresso Nacional é o ponto culminante de um processo congressual que se inicia com os congressos municipais - realizados no mês de setembro em mais de três mil municípios brasileiros onde o PSB é organizado – e com os congressos estaduais– realizados durante todo o mês de outubro.Desta forma, o resultado desses congressos culmina-se nos dias 2 e 3 de dezembro quando será realizado o XII Congresso Nacional cujo tema principal é a Questão Urbana e as Eleições Municipais.
Por que esse tema?  Nós estamos às vésperas de um ano eleitoral e a bandeira da reforma urbana vem sendo definida pelo PSB há alguns anos. Nós já temos experiências acumuladas do ponto de vista de mudanças e de reforma urbana em muitos municípios brasileiros e nós queremos continuar trabalhando essa questão. Achamos que a questão urbana no Brasil, da forma como ela se desenvolveu desordenada, diria até que de forma irresponsável, acumulou uma série de problemas que para encontrar soluções adequadas levará alguns anos e, exigirá que as políticas públicas sejam integradas. Ou seja, políticas que resolvam os problemas como o saneamento urbano, praças, ambientes de lazer, de cultura, de esportes, de transporte, educação de qualidade, assistência à saúde.todos esses aspectos estão envolvidos na questão urbana. A habitação, a propriedade da terra, são questões centrais para o enfrentamento. A população das nossas cidades, em grande parte, habita em bairros periféricos em condições praticamente sub-humanas e que precisam de políticas públicas capazes de retirar dessa condição de subcidadania.
Nós socialistas não podemos deixar e nem encarar como outras forças e outros setores da sociedade encaram a questão da subcidadania, como uma questão normal. O grau de violência que as cidades estão submetidas, sobretudo nos bairros periféricos das grandes e médias cidades brasileiras é inaceitável. Para se ter uma idéia, a cada ano morrem mais jovens na periferia de cada cidade brasileira do que vários conflitos armados por razões justas e injustas no mundo inteiro.Sem falar no problema das drogas que afeta enormemente as nossas cidades e principalmente os nossos jovens, que precisam ser retirados dessa condição de influência do tráfico de drogas e serem levados para a escola, para o esporte, para o lazer, para participar da cultura como cidadãos plenos e para oferecer um futuro capaz de assegurar uma maturidade digna.
Então, é um conjunto de problemas que para serem solucionados precisam de políticas integradas.  Ou se tem políticas urbanas integradas capazes de enfrentar o problema no seu conjunto, na sua totalidade, ou os problemas estarão sempre presentes, já que os diferentes governos tratam com soluções pontuais. Faz um saneamento ali, um bairro acolá, e assim os governos vão realizando coisas que não dão conta de uma solução mais ampla e necessária para resolver a questão urbana. Daí porque, o PSB pensa que é necessário um esforço conjunto das três esferas de governo; municipal, estadual e federal, sobretudo de um programa que possa ser coordenado pelo governo federal, envolvendo essas três instâncias de governo e a sociedade para enfrentar todas essas questões que eu mencionei acima.
Portal PSB: Um novo caminho para as nossas cidades. É isso Dr. Carlos Siqueira?
Carlos Siqueira: Exatamente. Esse é o slogam que de certa maneira sintetiza tudo aquilo que o PSB deseja para as cidades brasileiras. O XII Congresso Nacional será uma oportunidade para aprofundar o debate sobre o tema da reforma urbana e para orientar também o Partido e os nossos pré-candidatos a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores a fazer o diagnóstico de cada município onde o Partido está implantado. Onde existe o PSB, deve haver um diagnóstico sobre todos os problemas dos municípios, levando em consideração as deficiências de cada cidade. Desta forma, tanto o prefeito, vice-prefeito e vereador serão capazes de identificar os problemas e procurar soluções adequadas para o conjunto de cada município.  O Congresso será uma oportunidade importante para fazer a orientação sobre as alianças para as eleições municipais do ano que vem e transformar a bandeira do PSB, que é a questão urbana, em um projeto de trabalho permanente nos próximos anos.
Portal PSB: Sobre as eleições municipais, como esse tema será conduzido durante o Congresso Nacional do PSB?
Carlos Siqueira: No âmbito da discussão sobre a questão urbana, nós vamos reservar uma parte do tempo para aprovar uma resolução que trate das coligações e dos compromissos programáticos dos nossos pré-candidatos. Será uma resolução indicativa para que todo pré-candidato a prefeito, vice-prefeito e vereador do nosso partido tenha que fazer um curso preparatório para obter a vaga de candidato do PSB. Desta forma, qualificaremos melhor os nossos pré-candidatos, para que eles possam chegar nas eleições e apresentar, considerando as circunstâncias locais, projetos unificados e válidos para todos os municípios brasileiros. É claro que é preciso levar em consideração a necessidade da implantação das políticas públicas municipais, principalmente a legislação que trata da questão do estatuto das cidades. Nós temos que incentivar os nossos candidatos a transformar o estatuto das cidades – que é uma lei muito importante aprovada pelo nosso parlamento – em um programa de trabalho a ser executado. A realidade é que o Brasil tem todos os instrumentos para fazer a reforma urbana. No entanto, falta uma visão de integração das políticas públicas, a observação da legislação que já trata do tema e a decisão política de realizar e de melhorar a vida da população.
Portal PSB: Dr. Carlos Siqueira, o PSB é o partido que mais cresceu nos últimos anos. A qual fator o sr. atribui essa evolução?
Carlos Siqueira: Nós podemos considerar vários fatores. Entre eles, podemos mencionar o sucesso de muitas administrações do nosso partido, tanto municipais como estaduais.  O PSB tem procurado qualificar os seus quadros para no governo ter um planejamento eficaz capaz de melhorar a vida da população. E isso tem sido feito de maneira muito positiva em vários estados. Não por acaso nós tivemos a conquista de seis governos estaduais nas eleições de 2010.  Dobramos, praticamente, a bancada federal na Câmara dos Deputados e no Senado e também as bancadas estaduais. Nós temos um crescimento progressivo. Outro aspecto, é a preocupação do partido em se harmonizar em todo o País, em atrair boas lideranças, em ter boas administrações. Esse conjunto de fatores faz com que o Partido venha a crescer de maneira consistente e com qualidade – outro aspecto fundamental, porque a política não são apenas números. Nós temos um ideário político, nós somos um partido histórico, ideológico, programático e, essa forma de governar e de fazer política do PSB em constante processo de proposições de mudanças estruturais tem atraído cada dia mais os brasileiros. Nós esperamos que o nosso Partido continue assim e gradativamente possa conquistar não apenas governos estaduais mas também o governo federal – o nosso grande objetivo.
Qual será a programação do 12º Congresso Nacional do PSB?

Carlos Siqueira:A programação será reaizada toda em Brasília. Começaremos no dia 1º, às 15 horas, sob a coordenação do vice-presidente, Roberto Amaral – que também é o encarregado pelas relações internacionais do PSB -, e com a participação do presidente Eduardo Campos, uma reunião plenária com convidados internacionais de vários países que já confirmaram presença. Será realizada também no dia 1º, na parte da manhã, uma reunião da Coordenação Socialista Latino Americana (CSL) – que é integrada por todos os partidos socialistas do nosso Continente.No dia 2 de dezembro, às 9 horas, serão realizados os congressos dos segmentos organizados do PSB: mulheres, jovens, sindicalistas, negros, populares e a plenária do movimento LGBT.  São cinco Congressos e mais a plenária LGBT. Esses movimentos se reunirão em salas do anexo 2 da Câmara dos Deputados, em Brasília, nos dois expedientes – pela manhã e à tarde – para debater os temas específicos de cada um desses segmentos e também para debater o tema central do Congresso.
Ainda no dia 2, o PSB oferecerá um almoço para as delegações internacionais seguido de plenária.  Ao final do dia, às 18 horas, haverá um ato político e cultural de abertura do 12º Congresso Nacional do PSB, onde serão realizadas duas homenagens: uma nacional, dedicada ao nosso presidente de honra, Jamil Haddad, que também por muitos anos foi o presidente do nosso Partido. Uma figura excepcional, de extraordinária dimensão humana e política e que teve papel central no início da reconstrução do PSB, e no exercício, em nome do Partido, de vários cargos políticos, como prefeito do Rio de Janeiro, senador, deputado federal, deputado estadual e ministro da saúde.
A outra homenagem será dedicada a uma personalidade internacional. Por ser o ano internacional afro-descendente, o PSB decidiu homenagear uma figura que seguramente simboliza a luta dos negros por sua libertação, pela sua emancipação, pela sua cidadania plena: Nelson Mandela. Um estadista que lutou extraordinariamente pela libertação, pelo fim do aparthaide em seu país. Nelson Mandela continua sendo o inspirador de muitos movimentos emancipatórios no mundo inteiro e de todos aqueles que lutam por uma sociedade livre, justa e humana.
Após essas homenagens, teremos a aprovação do Regimento Interno do Congresso, pronunciamentos dos nossos dirigentes e a apresentação do relatório de gestão política que será apresentado pelo presidente Nacional do Partido, Eduardo Campos. Teremos a presença de convidados nacionais e internacionais e, também, do pianista Arthur Moreira Lima e do poeta popular, Antônio Marinho. Eles vão abrilhantar o nosso evento político e cultural de abertura do 12º Congresso. Será um ato político e cultural que esperamos que seja denso, politizado e capaz de envolver todos os companheiros e companheiras socialistas na atmosfera do Congresso.
No dia 3 pela manhã, já a partir das 9 horas, nós teremos uma plenária sobre o tema da Questão Urbana no Brasil. Para este fim, a Fundação João Mangabeira visando contribuir com o debate, já encaminhou a muitos companheiros um texto tratando dos diferentes aspectos da questão urbana no Brasil. Nesta ocasião, serão debatidas as deliberações que, posteriormente, serão publicadas no memorial do XII Congresso. À tarde, serão realizadas as eleições do novo Diretório Nacional, os conselhos de Ética e Fiscal. Em seguida teremos a primeira reunião do Diretório Nacional e a eleição na nova Executiva Nacional do PSB. Este será o último ato do Congresso.
O senhor falou das plenárias dos segmentos organizados. Como os movimentos sociais podem ajudar o PSB e Também o Brasil?
Carlos Siqueira: A participação de lideranças socialistas nas organizações dos movimentos sociais  e populares é fundamental para que eles possam ser a seiva que alimenta a militância do Partido. Não apenas internamente no PSB, mas, sobretudo, esses segmentos têm por objetivo participar dos movimentos sociais na sociedade. Ou seja, no PSB eles se organizam internamente e influem na condução interna do Partido em todas as instâncias, inclusive na Executiva Nacional com direito a voz e voto. No âmbito organizativo, a preparação é para que eles participem dos diferentes movimentos sociais e populares na sociedade. Ou seja, preparar as lideranças socialistas para que elas possam se relacionar e participar dos movimentos sociais organizados sem nunca confundir com os partidos. Os movimentos sociais, sob o nosso conceito, têm autonomia e diversidade. Eles não são propriedade nem do nosso e nem de nenhum partido. Os socialistas entendem que a participação deve ser feita considerando a pluralidade de cada segmento organizado, respeitando a sua autonomia e diversidade.
Nós precisamos respeitar os movimentos sociais, dinamizá-los e contribuir para que eles possam cumprir o seu papel crítico em relação a qualquer que seja o governo. Eles podem e devem apoiar os governos, mas de maneira autônoma, compreendendo o conjunto das lutas sociais como uma ação política transformadora.
Qual é expectativa para o Congresso?
Carlos Siqueira: A expectativa é a melhor possível. Eu acredito que nunca na história recente do nosso Partido tivemos um congresso com tanta unidade. Nós participamos de vários congressos municipais, estaduais e seminários ao longo desse ano, e percebemos que além do Partido estar em uma dinâmica muito positiva de crescimento, de harmonia e de unidade, o PSB vem para esse congresso unido no o sentido de avançar nas questões organizativas e políticas e, sobretudo, de se preparar e de qualificar os seus membros para as disputas eleitorais por um lado e, para as disputas na sociedade com os movimentos sociais e populares. Este é um momento excepcional. Acredito que a figura dinâmica e ainda quase jovem do nosso presidente Nacional, Eduardo Campos, tem contribuído de maneira muito significativa para que o PSB esteja unido, entusiasmado e com um dinamismo que nos alegra a todos.
Vera Canfran - Assessoria de Comunicação do PSB

João Capiberibe será diplomado nesta segunda-feira




O socialista João Capiberibe (AP) será diplomado como senador, nesta segunda-feira (14), às 17 horas, pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP). Por unanimidade, os ministros determinaram a diplomação pela Justiça Eleitoral de João Capiberibe. Esta foi a terceira decisão da mais alta corte do país com relação ao registro de candidatura do socialista. Capiberibe foi o segundo mais votado no Amapá, com 130.411 votos, na corrida pelas duas vagas ao Senado. Ele entra no lugar de Gilvam Borges (PMDB-AP), que atualmente está licenciado do mandato.
“Quase um ano depois, finalmente receberei meu diploma de senador eleito em 2010, o que abre caminho para a posse no senado nos próximos dias. Agradeço as manifestações de apoio e solidariedade que me dispensaram ao longo dos últimos seis anos, tempo de duração do meu segundo exílio político”, disse Capiberibe.

Romário: ''O Corrupto tem que ir embora''




    
25/07/2011 - Folha de Pernambuco
Entrevista concedida ao jornalista Manoel Guimarães do jornal Folha de Pernambuco e publicada no dia 24 de julho de 2011.
Aposentado dos gramados desde 2008, o ex-atacante e agora deputado federal Romário de Souza Faria (PSB-RJ) mostra que continua com a mesma língua afiada - e presa - dos tempos de jogador. Eleito no ano passado, com 146.859 votos, o “Baixinho” esteve em Pernambuco na semana passada e falou sobre o início da carreira política. “Do plenário em si, não sou fã”, confessa. “Quem faz da política um ganho de vida tem que ser preso”, afirma Romário, lembrando as velhas frases de efeito que permanecem na memória dos boleiros. Como parlamentar, suas ações têm sido destinadas a crianças e jovens com deficiência ou com problemas envolvendo drogas - que são o motivo de uma campanha para a qual o parlamentar quer aproveitar sua imagem. O socialista ainda comemorou os dois artigos elaborados para um projeto voltado para essa área. “Foi meu primeiro gol na política”, diverte-se o “Baixinho”. Confira abaixo a entrevista publicada no jornal Folha de Pernambuco.
 
Folha de Pernambuco (FP): O senhor é um estreante na política, tendo conquistado um mandato em sua primeira eleição, no ano passado. Como avalia esse primeiro semestre como político, após mais de 20 anos como jogador de futebol?
Romário: 
Posso te dizer que me encontrei na política. Nos primeiros dias, realmente me perguntava o que estava fazendo no Congresso, nesse mundo totalmente diferente. Posso dizer que quando cheguei em Brasília, fiquei bastante acanhado. Ainda não tinham sido abertas as comissões, não tinha nenhuma frente parlamentar formada. Depois de duas semanas, quando houve essa abertura, as coisas melhoraram para mim.
 
FP: Desde os tempos de atleta, o senhor sempre deu declarações fortes, algumas que renderam polêmica. No ano passado, quando se candidatou, prometeu que iria surpreender. Agora como político, se sente à vontade no plenário?
Romário:
 Do plenário em si, particularmente não sou fã. Prefiro atuar nas comissões e nas frentes parlamentares. Até porque quem tem mais direito e mais tempo de falar no plenário são os líderes. Como não sou líder, sou um novato, não tenho muito tempo de falar. E nem me deixam. Falei umas quatro vezes nesse semestre. Fui sorteado para falar por 25 minutos uma vez, no chamado grande expediente. Também já falei no médio e no pequeno.
 
FP:Muitos deputados reclamam da concorrência para falar na tribuna. O senhor tenta se inscrever?
Romário:Sempre que posso, tento me inscrever para falar, mas a lista é enorme. Somos 513 deputados e todo mundo quer falar. Na verdade, só falo o que acredito que realmente venha a ser algo de positivo. Falar por simplesmente aparecer na televisão, é melhor não falar. Graças a Deus sou um deputado que não preciso disso.
 
FP:Sua atuação então é mais na parte das comissões...
Romário:
 O plenário era para deputados como Sílvio Costa (PTB), da sua terra, que é uma pessoa muito respeitada em Brasília e com quem aprendi muito a ser um político correto e descente, fazendo ações que sirvam para beneficiar o povo. Eu fui colocado na Comissão de Esporte e Turismo, da qual sou vice-presidente. Também faço parte da frente parlamentar em defesa das pessoas com deficiência e da frente em defesa da atividade física. Não sou participante da Mesa, mas integro também a frente de combate ao crack e ao oxi. Já tive oportunidade de ir com o deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL), que também tem feito um grande trabalho.
 
FP:Quando chegou na Câmara, chegou a sentir preconceito, por ser de origem humilde e ao mesmo tempo por ser um ex-atleta, da chamada “bancada dos famosos”?
Romário:
 É natural. As pessoas imaginavam o Romário como mais uma celebridade, que ia chegar e passar quatro anos fingindo que iria fazer uma coisa, como aliás muitos fazem. Mas tenho certeza que se você perguntar aos meus 512 colegas, eles vão dizer que vêem um Romário atuante. Infelizmente, tem coisas que acontecem. Por exemplo, saíram coisas na Imprensa carioca que acabaram ecoando pelo Brasil. Disseram que no meu primeiro mês de mandato, eu faltei a uma sessão na Câmara para jogar futevôlei. Se você entrar hoje no site da Câmara, vai ver que eu estou com 100% de presenças. Então tem algo de errado. Até porque eu não faltei a sessão que disseram, eu estava lá. E se você entrar no site do Governo, vai ver que somente eu e mais 32 deputados somos os únicos 100%. Talvez eu seja o único 100% presente em todas as comissões e frentes parlamentares.
 
FP: Recentemente, o presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), chegou a elogiá-lo por essa assiduidade...
Romário: 
Agradeço muito o elogio que o presidente me fez. Mas na realidade não ligo para elogio, não. Estou lá na Câmara para fazer o meu melhor. Sou uma pessoa muito feliz. E sempre coloquei minhas bandeiras, desde a campanha. Quero trabalhar para fazer o melhor para as crianças, os jovens, as comunidades e principalmente o futebol. Nasci numa favela e sei como é difícil a vida. Por isso, minhas bandeiras estão voltadas para ações nessas áreas. E acredito que não haja no mundo uma ferramenta mais emergencial do que fazer uma inclusão dessas pessoas através do esporte. Não falo só de futebol. A gente tem que entender que nossa política pública tem que mudar um pouco no que se refere a isso.
 
FP: Que ação sua o senhor destacaria em seu primeiro semestre como deputado?
Romário:
 Recentemente acrescentei dois artigos em uma emenda, que se Deus quiser vão virar lei, relacionados a essas áreas de crianças e jovens. Com essa emenda, posso considerar que foi o meu primeiro gol na política. Foi o meu primeiro gol no Congresso. Tem parlamentares que têm três, quatro mandatos como deputados e ainda não tinham conseguido isso. Com cinco meses espero ter conseguido. E posso considerar que vou fazer oito gols nesses quatro anos de Congresso. Os outros também estarão relacionados com essa área de crianças e jovens com dificuldade, pessoas com deficiência, e também com os drogados, que não eram minha bandeira, mas passaram a ser porque era uma obrigação minha.
 
FP: O senhor se colocou à disposição dos estados para campanhas contra as drogas. Esse tipo de ação também foi incluído nos seus propósitos como parlamentar?
Romário: Tirei a primeira semana do recesso para passar pelos estados governados pelo PSB. Fui no Piauí, Espírito Santo, Pernambuco, com nosso presidente nacional Eduardo Campos, Paraíba, Ceará e Amapá. Minhas visitas foram totalmente direcionadas para a gente conseguir alguma forma de diminuir essa entrada, tanto de crianças como de jovens, e hoje até dos mais adultos, nessas drogas que invadiram o nosso País, como o crack e o oxi. Não poderia ser diferente. Estou me colocando à disposição em todos os sentidos, para participar de atos, conferências, simpósios, fóruns que estejam ligados a esse tema das drogas. Coloco a minha imagem, porque acredito que eu tenha uma imagem positiva no meio dos jovens, pois também nasci numa comunidade, ganhei minha vida com muita luta e sacrifício. Quero que eles tenham mais certeza de que, através do esporte, eles podem ter uma qualidade de vida melhor.
 
FP: De que forma o governo pode entrar nessa questão?
Romário:
 O governo tem que entender que não é só simplesmente tirá-los da droga, desintoxicá-los e depois voltar para casa. Tem que dar aos jovens, aos usuários no mínimo uma oportunidade para eles terem, no esporte ou no trabalho, uma forma de capacitá-los. As pessoas têm que ter a oportunidade de aprenderem coisas para que possam levá-las para o mercado de trabalho.
 
FP: Recentemente, o Governo Dilma tem enfrentado problemas por conta de denúncias sobre corrupção em algumas pastas, em especial o Ministério dos Transportes. Qual sua opinião sobre esses problemas?
Romário:
 Eu sou muito claro. Para mim, o corrupto tem que ir embora. Quem é corrupto, quem é ladrão, quem faz da política um ganho de vida tem que ser preso. É bem simples e rápido. Não tenho muita palavra. Vocês me conhecem, eu sou o Romário de sempre. Político não é para ser corrupto. Político não é pra roubar e muito menos para fazer falcatrua. Aqueles que são assim têm que ir para a cadeia mesmo. Tem que perder o emprego e serem fiscalizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pelo Mistério Público, e se forem culpados têm que devolver o dinheiro e cadeia! Sou a favor disso.
 
FP: Mas houve isso nos Transportes?
Romário: Isso eu não posso dizer. Estou dizendo que corrupto, dessa forma que falei, tem que ser levado assim. Agora, o que houve nos Transportes, ninguém pode dizer. Até porque, até agora, nada foi totalmente comprovado. Na verdade, a atitude do ministério em pedir o afastamento do ministro foi muito inteligente, até para que ele mesmo possa se defender. Acredito que todo mundo tem o direito de se defender, a partir do momento em que há uma acusação contra você ou contra qualquer um.
 
FP: Quando a Copa foi anunciada no Brasil, o senhor declarou que o País faria o melhor torneio de todos. Ainda partilha deste pensamento?
Romário: Retiro essa frase. Realmente estamos bem atrasados em algumas coisas. A Copa do Mundo com certeza vai acontecer no Brasil. Mas se a coisa for do jeito que está, vai ser uma Copa do Mundo meio maquiada, e não era isso que a gente queria. Acho que o mais importante de uma Copa ou Olimpíada, que o Brasil também sediará, é deixar legados. Pelo que tenho visto, não há nenhum tipo de legado a nível de educação, de saúde, na área social. O que vejo é um monte de estádios sendo construídos, e alguns, da forma que são colocados para a gente, podem virar um estádio multiuso, enquanto outros, com certeza, virarão um elefante branco. Independente de Copa ou Olimpíada, os aeroportos brasileiros já tinham que ter sido ampliados e melhorados, porque a gente vê grandes problemas em época de férias.
 
FP: Muitas denúncias têm recaído sobre o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que é o organizador dessa Copa...
Romário: 
Essas denúncias que têm saído por aí sobre corrupção e fraude, eu não tenho nada a dizer. Acredito que isso realmente atrapalhe o andamento do Brasil, porque o Ricardo Teixeira é o grande nome do futebol brasileiro. Essa seria uma excelente oportunidade para ele vir a público e tirar as dúvidas das pessoas. Existe uma grande desconfiança do povo em relação a Ricardo Teixeira. Mas hoje, como não tem nada confirmado, e estou levantando isso, a nível de corrupção, de fraudes e de roubos, eu seria incapaz de dizer que o Ricardo é culpado de alguma coisa enquanto nada for provado. Não sou juiz, não sou desembargador, muito menos advogado. Nós temos que perguntar se é verdade isso que está sendo dito por aí aos órgãos competentes que podem resolver isso.
 
FP: Na política, assim como no futebol, há muitos rumores e especulações. Comenta-se que o senhor poderia ser lançado a candidato para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 2012. Há verdade nessas especulações?
Romário: Olhe, o PSB do Rio de Janeiro está muito preocupado com isso. Não só o presidente, como todos nós deputados estamos conversando muito sobre uma forma de a gente acabar isso. Saiu uma nota em um jornal lá do Rio, cogitando isso (disputar a Prefeitura). Mas eu descarto. Para você ser prefeito de um município, você tem que ter uma experiência administrativa muito grande, principalmente se tratando de uma capital como o Rio de Janeiro. Eu não me considero capaz disso. Apesar de a eleição só ser daqui a um ano e meio, eu ainda não estarei preparado para administrar um município como o Rio de Janeiro. Sei me colocar no meu lugar. Meu objetivo na política são esses quatro anos como deputado.
 
FP: Também se especula que o governador Eduardo Campos, que é presidente nacional do seu partido, pode ser candidato à Presidência da República em 2014. O quão viável esse projeto nacional do PSB lhe parece?
Romário: O governador Eduardo Campos é um político que admiro bastante e que tem grande credibilidade no mundo político. Se acontecer de um dia ele entender que reúna as condições e que deva sair candidato à Presidência da República, e se isso for de comum acordo entre os partidos da base, vejo com bons olhos.
 
FP: E depois?
Romário: Depois a gente vai sentar e ver. Quero contribuir com o povo, com o Brasil. E é isso que pretendo nos próximos três anos e meio. Repito, não penso em 2012. Meu pensamento é finalizar esse mandato com coisas positivas. Lá na frente a gente vai ver o que vamos fazer.

'O socialismo é uma doutrina triunfante'



12/07/2011 - Revista Brasil de Fato
*Entrevista concedida à jornalista Joana Tavares da Revista Brasil de Fato.
 
Crítico literário, professor, sociólogo, militante. Um adjetivo sozinho não consegue definir a importância de Antonio Candido para o Brasil. Considerado um dos principais intelectuais do país, ele mantém a postura socialista, a cordialidade, a elegância, o senso de humor, o otimismo. Antes de começar nossa entrevista, ele diz que viveu praticamente todo o conturbado século 20. E participou ativamente dele, escrevendo, debatendo, indo a manifestações, ajudando a dar lucidez, clareza e humanidade a toda uma geração de alunos, militantes sociais, leitores e escritores.
Tão bom de prosa como de escrita, ele fala sobre seu método de análise literária, dos livros de que gosta, da sua infância, do começo da sua militância, da televisão, do MST, da sua crença profunda no socialismo como uma doutrina triunfante. “O que se pensa que é a face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele”, afirma.
 
Aos 93 anos, Antonio Candido explica a sua concepção de socialismo, fala sobre literatura e revela não se interessar por novas obras. Confira abaixo a entrevista concedida à jornalista Joana Tavares da Revista Brasil de Fato.
 
Brasil de Fato – Nos seus textos é perceptível a intenção de ser entendido. Apesar de muito erudito, sua escrita é simples. Por que esse esforço de ser sempre claro?
Antonio Candido – Acho que a clareza é um respeito pelo próximo, um respeito pelo leitor. Sempre achei, eu e alguns colegas, que, quando se trata de ciências humanas, apesar de serem chamadas de ciências, são ligadas à nossa humanidade, de maneira que não deve haver jargão científico. Posso dizer o que tenho para dizer nas humanidades com a linguagem comum. Já no estudo das ciências humanas eu preconizava isso. Qualquer atividade que não seja estritamente técnica, acho que a clareza é necessária inclusive para pode divulgar a mensagem, a mensagem deixar de ser um privilégio e se tornar um bem comum.

Brasil de Fato - O seu método de análise da literatura parte da cultura para a realidade social e volta para a cultura e para o texto. Como o senhor explicaria esse método?
Antonio Candido - 
Uma coisa que sempre me preocupou muito é que os teóricos da literatura dizem: é preciso fazer isso, mas não fazem. Tenho muita influência marxista – não me considero marxista – mas tenho muita influência marxista na minha formação e também muita influência da chamada escola sociológica francesa, que geralmente era formada por socialistas. Parti do seguinte princípio: quero aproveitar meu conhecimento sociológico para ver como isso poderia contribuir para conhecer o íntimo de uma obra literária. No começo eu era um pouco sectário, politizava um pouco demais minha atividade. Depois entrei em contato com um movimento literário norte-americano, a nova crítica, conhecido como new criticism. E aí foi um ovo de colombo: a obra de arte pode depender do que for, da personalidade do autor, da classe social dele, da situação econômica, do momento histórico, mas quando ela é realizada, ela é ela. Ela tem sua própria individualidade. Então a primeira coisa que é preciso fazer é estudar a própria obra. Isso ficou na minha cabeça. Mas eu também não queria abrir mão, dada a minha formação, do social. Importante então é o seguinte: reconhecer que a obra é autônoma, mas que foi formada por coisas que vieram de fora dela, por influências da sociedade, da ideologia do tempo, do autor. Não é dizer: a sociedade é assim, portanto a obra é assim. O importante é: quais são os elementos da realidade social que se transformaram em estrutura estética. Me dediquei muito a isso, tenho um livro chamado “Literatura e sociedade” que analisa isso. Fiz um esforço grande para respeitar a realidade estética da obra e sua ligação com a realidade. Há certas obras em que não faz sentido pesquisar o vínculo social porque ela é pura estrutura verbal. Há outras em que o social é tão presente – como “O cortiço” [de Aluísio Azevedo] – que é impossível analisar a obra sem a carga social. Depois de mais maduro minha conclusão foi muito óbvia: o crítico tem que proceder conforme a natureza de cada obra que ele analisa. Há obras que pedem um método psicológico, eu uso; outras pedem estudo do vocabulário, a classe social do autor; uso. Talvez eu seja aquilo que os marxistas xingam muito que é ser eclético. Talvez eu seja um pouco eclético, confesso. Isso me permite tratar de um número muito variado de obras.

Brasil de Fato - Teria um tipo de abordagem estética que seria melhor?
Antonio Candido - Não privilegio. Já privilegiei. Primeiro o social, cheguei a privilegiar mesmo o político. Quando eu era um jovem crítico eu queria que meus artigos demonstrassem que era um socialista escrevendo com posição crítica frente à sociedade. Depois vi que havia poemas, por exemplo, em que não podia fazer isso. Então passei a outra fase em que passei a priorizar a autonomia da obra, os valores estéticos. Depois vi que depende da obra. Mas tenho muito interesse pelo estudo das obras que permitem uma abordagem ao mesmo tempo interna e externa. A minha fórmula é a seguinte: estou interessado em saber como o externo se transformou em interno, como aquilo que é carne de vaca vira croquete. O croquete não é vaca, mas sem a vaca o croquete não existe. Mas o croquete não tem nada a ver com a vaca, só a carne. Mas o externo se transformou em algo que é interno. Aí tenho que estudar o croquete, dizer de onde ele veio.

Brasil de Fato - O que é mais importante ler na literatura brasileira?
Antonio Candido - Machado de Assis. Ele é um escritor completo.

Brasil de Fato - É o que senhor mais gosta?
Antonio Candido - Não, mas acho que é o que mais se aproveita.

Brasil de Fato - E de qual o senhor mais gosta?
Antonio Candido -
 Gosto muito do Eça de Queiroz, muitos estrangeiros. De brasileiros, gosto muito de Graciliano Ramos... Acho que já li “São Bernardo” umas 20 vezes, com mentira e tudo. Leio o Graciliano muito, sempre. Mas Machado de Assis é um autor extraordinário. Comecei a ler com 9 anos livros de adulto. E ninguém sabia quem era Machado de Assis, só o Brasil e, mesmo assim, nem todo mundo. Mas hoje ele está ficando um autor universal. Ele tinha a prova do grande escritor. Quando se escreve um livro, ele é traduzido, e uma crítica fala que a tradução estragou a obra, é porque não era uma grande obra. Machado de Assis, mesmo mal traduzido, continua grande. A prova de um bom escritor é que mesmo mal traduzido ele é grande. Se dizem: “a tradução matou a obra”, então a obra era boa, mas não era grande.

Brasil de Fato - Como levar a grande literatura para quem não está habituado com a leitura?
Antonio Candido -
 É perfeitamente possível, sobretudo Machado de Assis. A Maria Vitória Benevides me contou de uma pesquisa que foi feita na Itália há uns 30 anos. Aqueles magnatas italianos, com uma visão já avançada do capitalismo, decidiram diminuir as horas de trabalho para que os trabalhadores pudessem ter cursos, se dedicar à cultura. Então perguntaram: cursos de que vocês querem? Pensaram que iam pedir cursos técnicos, e eles pediram curso de italiano para poder ler bem os clássicos. “A divina comédia” é um livro com 100 cantos, cada canto com dezenas de estrofes. Na Itália, não sou capaz de repetir direito, mas algo como 200 mil pessoas sabem a primeira parte inteira, 50 mil sabem a segunda, e de 3 a 4 mil pessoas sabem o livro inteiro de cor. Quer dizer, o povo tem direito à literatura e entende a literatura. O doutor Agostinho da Silva, um escritor português anarquista que ficou muito tempo no Brasil, explicava para os operários os diálogos de Platão, e eles adoravam. Tem que saber explicar, usar a linguagem normal.

Brasil de Fato - O senhor acha que o brasileiro gosta de ler?
Antonio Candido - 
Não sei. O Brasil pra mim é um mistério. Tem editora para toda parte, tem livro para todo lado. Vi uma reportagem que dizia que a cidade de Buenos Aires tem mais livrarias que em todo o Brasil. Lê-se muito pouco no Brasil. Parece que o povo que lê mais é o finlandês, que lê 30 volumes por ano. Agora dizem que o livro vai acabar, né?

Brasil de Fato - O senhor acha que vai?
Antonio Candido - 
Não sei. Eu não tenho nem computador... as pessoas me perguntam: qual é o seu... como chama?

Brasil de Fato - E-mail?
Antonio Candido -
 Isso! Olha, eu parei no telefone e máquina de escrever. Não entendo dessas coisas... Estou afastado de todas as novidades há cerca de 30 anos. Não me interesso por literatura atual. Sou um velho caturra. Já doei quase toda minha biblioteca, 14 ou 15 mil volumes. O que tem aqui é livro para visita ver. Mas pretendo dar tudo. Não vendo livro, eu dou. Sempre fiz escola pública, inclusive universidade pública, então é o que posso dar para devolver um pouco. Tenho impressão que a literatura brasileira está fraca, mas isso todo velho acha. Meus antigos alunos que me visitam muito dizem que está fraca no Brasil, na Inglaterra, na França, na Rússia, nos Estados Unidos... que a literatura está por baixo hoje em dia. Mas eu não me interesso por novidades.

Brasil de Fato - E o que o senhor lê hoje em dia?
Antonio Candido - 
Eu releio. História, um pouco de política... mesmo meus livros de socialismo eu dei tudo. Agora estou querendo reler alguns mestres socialistas, sobretudo Eduard Bernstein, aquele que os comunistas tinham ódio. Ele era marxista, mas dizia que o marxismo tem um defeito, achar que a gente pode chegar no paraíso terrestre. Então ele partiu da ideia do filósofo Immanuel Kant da finalidade sem fim. O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno.

Brasil de Fato - O senhor é socialista?
Antonio Candido -
 Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo... tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias... tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.

Brasil de Fato - Por quê?
Antonio Candido -
 Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.

Brasil de Fato - O socialismo como luta dos trabalhadores?
Antonio Candido -
 O socialismo como caminho para a igualdade. Não é a luta, é por causa da luta. O grau de igualdade de hoje foi obtido pelas lutas do socialismo. Portanto ele é uma doutrina triunfante. Os países que passaram pela etapa das revoluções burguesas têm o nível de vida do trabalhador que o socialismo lutou para ter, o que quer. Não vou dizer que países como França e Alemanha são socialistas, mas têm um nível de vida melhor para o trabalhador.

Brasil de Fato - Para o senhor é possível o socialismo existir triunfando sobre o capitalismo?
Antonio Candido -
 Estou pensando mais na técnica de esponja. Se daqui a 50 anos no Brasil não houver diferença maior que dez do maior ao menor salário, se todos tiverem escola... não importa que seja com a monarquia, pode ser o regime com o nome que for, não precisa ser o socialismo! Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas. Não tenho cabeça teórica, não sei como resolver essa questão: o socialismo foi extraordinário para pensar a distribuição econômica, mas não foi tão eficiente para efetivamente fazer a produção. O capitalismo foi mais eficiente, porque tem o lucro. Quando se suprime o lucro, a coisa fica mais complicada. É preciso conciliar a ambição econômica – que o homem civilizado tem, assim como tem ambição de sexo, de alimentação, tem ambição de possuir bens materiais – com a igualdade. Quem pode resolver melhor essa equação é o socialismo, disso não tenho a menor dúvida. Acho que o mundo marcha para o socialismo. Não o socialismo acadêmico típico, a gente não sabe o que vai ser... o que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo.

Brasil de Fato - O que o socialismo conseguiu no mundo de avanços?
Antonio Candido - 
O socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. Se você tira os rótulos e vê as realidades, vê como o socialismo humanizou o mundo. Em Cuba eu vi o socialismo mais próximo do socialismo. Cuba é uma coisa formidável, o mais próximo da justiça social. Não a Rússia, a China, o Camboja. No comunismo tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano. E não há verdade final fora da moderação, isso Aristóteles já dizia, a verdade está no meio. Quando eu era militante do PT – deixei de ser militante em 2002, quando o Lula foi eleito – era da ala do Lula, da articulação, mas só votava nos candidatos da extrema esquerda, para cutucar o centro. É preciso ter esquerda e direita para formar a média. Estou convencido disso: o socialismo é a grande visão do homem, que não foi ainda superada, de tratar o homem realmente como ser humano. Podem dizer: a religião faz isso. Mas faz isso para o que são adeptos dela, o socialismo faz isso para todos. O socialismo funciona como esponja: hoje o capitalismo está embebido de socialismo. No tempo que meu irmão Roberto – que era católico de esquerda – começou a trabalhar, eu era moço, ele era tido como comunista, por dizer que no Brasil tinha miséria. Dizer isso era ser comunista, não estou falando em metáforas. Hoje, a Federação das Indústrias, Paulo Maluf, eles dizem que a miséria é intolerável. O socialismo está andando... não com o nome, mas aquilo que o socialismo quer, a igualdade, está andando. Não aquela igualdade que alguns socialistas e os anarquistas pregavam, igualdade absoluta é impossível. Os homens são muito diferentes, há uma certa justiça em remunerar mais aquele que serve mais à comunidade. Mas a desigualdade tem que ser mínima, não máxima. Sou muito otimista. (pausa). O Brasil é um país pobre, mas há uma certa tendência igualitária no brasileiro – apesar da escravidão - e isso é bom. Tive uma sorte muito grande, fui criado numa cidade pequena, em Minas Gerais, não tinha nem 5 mil habitantes quando eu morava lá. Numa cidade assim, todo mundo é parente. Meu bisavô era proprietário de terras, mas a terra foi sendo dividida entre os filhos... então na minha cidade o barbeiro era meu parente, o chofer de praça era meu parente, até uma prostituta, que foi uma moça deflorada expulsa de casa, era minha prima. Então me acostumei a ser igual a todo mundo. Fui criado com os antigos escravos do meu avô. Quando eu tinha 10 anos de idade, toda pessoa com mais de 40 anos tinha sido escrava. Conheci inclusive uma escrava, tia Vitória, que liderou uma rebelião contra o senhor. Não tenho senso de desigualdade social. Digo sempre, tenho temperamento conservador. Tenho temperamento conservador, atitudes liberais e ideias socialistas. Minha grande sorte foi não ter nascido em família nem importante nem rica, senão ia ser um reacionário. (risos).
Brasil de Fato - A Teresina, que inspirou um livro com seu nome, o senhor conheceu depois?
Antonio Candido -
 Conheci em Poços de Caldas... essa era uma mulher extraordinária, uma anarquista, maior amiga da minha mãe. Tenho um livrinho sobre ela. Uma mulher formidável. Mas eu me politizei muito tarde, com 23, 24 anos de idade com o Paulo Emílio. Ele dizia: “é melhor ser fascista do que não ter ideologia”. Ele que me levou para a militância. Ele dizia com razão: cada geração tem o seu dever. O nosso dever era político.

Brasil de Fato - E o dever da atual geração?
Antonio Candido -
 Ter saudade. Vocês pegaram um rabo de foguete danado.

Brasil de Fato - No seu livro “Os parceiros do Rio Bonito” o senhor diz que é importante defender a reforma agrária não apenas por motivos econômicos, mas culturalmente. O que o senhor acha disso hoje?
Antonio Candido -
 Isso é uma coisa muito bonita do MST. No movimento das Ligas Camponesas não havia essa preocupação cultural, era mais econômica. Acho bonito isso que o MST faz: formar em curso superior quem trabalha na enxada. Essa preocupação cultural do MST já é um avanço extraordinário no caminho do socialismo. É preciso cultura. Não é só o livro, é conhecimento, informação, notícia... Minha tese de doutorado em ciências sociais foi sobre o camponês pobre de São Paulo – aquele que precisa arrendar terra, o parceiro. Em 1948, estava fazendo minha pesquisa num bairro rural de Bofete e tinha um informante muito bom, Nhô Samuel Antônio de Camargos. Ele dizia que tinha mais de 90 anos, mas não sabia quantos. Um dia ele me perguntou: “ô seu Antonio, o imperador vai indo bem? Não é mais aquele de barba branca, né?”. Eu disse pra ele: “não, agora é outro chamado Eurico Gaspar Dutra”. Quer dizer, ele está fora da cultura, para ele o imperador existe. Ele não sabe ler, não sabe escrever, não lê jornal. A humanização moderna depende da comunicação em grande parte. No dia em que o trabalhador tem o rádio em casa ele é outra pessoa. O problema é que os meios modernos de comunicação são muito venenosos. A televisão é uma praga. Eu adoro, hein? Moro sozinho, sozinho, sou viúvo e assisto televisão. Mas é uma praga. A coisa mais pérfida do capitalismo – por causa da necessidade cumulativa irreversível – é a sociedade de consumo. Marx não conheceu, não sei como ele veria. A televisão faz um inculcamento sublimar de dez em dez minutos, na cabeça de todos – na sua, na minha, do Sílvio Santos, do dono do Bradesco, do pobre diabo que não tem o que comer – imagens de whisky, automóvel, casa, roupa, viagem à Europa – cria necessidades. E claro que não dá condições para concretizá-las. A sociedade de consumo está criando necessidades artificiais e está levando os que não têm ao desespero, à droga, miséria... Esse desejo da coisa nova é uma coisa poderosa. O capitalismo descobriu isso graças ao Henry Ford. O Ford tirou o automóvel da granfinagem e fez carro popular, vendia a 500 dólares. Estados Unidos inteiro começou a comprar automóvel, e o Ford foi ficando milionário. De repente o carro não vendia mais. Ele ficou desesperado, chamou os economistas, que estudaram e disseram: “mas é claro que não vende, o carro não acaba”. O produto industrial não pode ser eterno. O produto artesanal é feito para durar, mas o industrial não, ele tem que ser feito para acabar, essa é coisa mais diabólica do capitalismo. E o Ford entendeu isso, passou a mudar o modelo do carro a cada ano. Em um regime que fosse mais socialista seria preciso encontrar uma maneira de não falir as empresas, mas tornar os produtos duráveis, acabar com essa loucura da renovação. Hoje um automóvel é feito para acabar, a moda é feita para mudar. Essa ideia tem como miragem o lucro infinito. Enquanto a verdadeira miragem não é a do lucro infinito, é do bem-estar infinito.

Quem é
Antonio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1918, concluiu seus estudos secundários em Poços de Caldas (MG) e ingressou na recém-fundada Universidade de São Paulo em 1937, no curso de Ciências Sociais. Com os amigos Paulo Emílio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado e outros fundou a revista Clima. Com Gilda de Mello e Souza, colega de revista e do intenso ambiente de debates sobre a cultura, foi casado por 60 anos. Defendeu sua tese de doutorado, publicada depois como o livro “Os Parceiros do Rio Bonito”, em 1954. De 1958 a 1960 foi professor de literatura na Faculdade de Filosofia de Assis. Em 1961, passou a dar aulas de teoria literária e literatura comparada na USP, onde foi professor e orientou trabalhos até se aposentar, em 1992. Na década de 1940, militou no Partido Socialista Brasileiro, fazendo oposição à ditadura Vargas. Em 1980, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Colaborou nos jornaisFolha da Manhã e Diário de São Paulo, resenhando as primeiras obras literárias. É autor de inúmeros livros, atualmente reeditados pela editora Ouro sobre Azul, coordenada por sua filha, Ana Luisa Escorel.

Piauí é modelo para o Plano de Ação para Pessoa com Deficiência


As políticas públicas desenvolvidas para pessoa com deficiência no Piauí serviram de modelo para a elaboração do Plano Nacional de Ação para Pessoa com Deficiência, que será lançado pela presidente Dilma Rousseff, no dia 17 de novembro, em Brasília.
A Secretaria de Inclusão da Pessoa com Deficiência participa do lançamento do plano, que vai utilizar a experiência do Piauí na área de reabilitação, como o modelo para todo o país. A  iniciativa envolve 12 ministérios e aplicará recursos de R$ 9 bilhões. De acordo com o secretário Helder Jacobina, o modelo do Centro Integrado de Reabilitação será a base das clínicas de reabilitação a serem implantadas em todo o Brasil.
“É gratificante vendo a nossa experiência sendo reconhecida, e servindo de modelo de atendimento para pessoa com deficiência”, frisou.
O Piauí avançou na aplicação de políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência. Com várias ações especificas,  dentre elas estão os  Fóruns Regionais de Políticas Públicas  realizados este ano em  seis territórios do estado, capacitando mais de 12 mil pessoas  e realizando a entrega de quase 3 mil próteses, órteses e cadeiras de roda, além da entrega de  mais mil  carteiras do passe livre intermunicipal.
Para 2012  será realizada Conferência Estadual da Pessoa com Deficiência, onde serão mais políticas públicas para o setor. “Na verdade, este evento no estado é o primeiro passo para a Conferência Nacional que vai discutir as diretrizes para a pessoa com deficiência, que devem ser adotadas pelo Governo Federal”, pontuou Jacobina.
Assessoria de Comunicação Social do Governo do Piauí