Morte de Itamar Franco deixa mais pobre cenário da política
A morte do ex-presidente da República Itamar Franco no último sábado pegou o Brasil de surpresa e deixou a política nacional meio que órfã de grandes quadros.
Em 1989, durante as primeiras eleições diretas para presidente depois da ditadura militar, Itamar foi eleito vice-presidente do Brasil pelo PRN, na chapa de Fernando Collor de Melo. Collor recebeu 20 milhões de votos no primeiro turno e 35 milhões no segundo turno, contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva, com a renúncia do então presidente Fernando Collor de Mello. Itamar Franco assumiu o comando do Executivo em 1992, Itamar também governou o Estado de Minas Gerais entre 1999 e 2003 e foi eleito senador no ano passado, com 5.125.455 votos.
Dono de um temperamento marcado pela defesa das causas nacionalistas, explosões de humor e espontaneidade. Engenheiro, Itamar Augusto Cautiero Franco nasceu em 28 de junho de 1930 a bordo de um navio. Ele foi registrado em Salvador (BA). Sua carreira política teve início no MDB (Movimento Democrático Brasileiro), legenda pela qual foi eleito prefeito de Juiz de Fora em duas gestões, entre 1967 e 1971 e entre 1973 e 1974.
Também representando o MDB, Itamar chegou a Brasília para seu primeiro mandato como senador em 1974. Ele se reelegeu em 1982, já como militante do PMDB. Quatro anos depois, migrou para o PL, após divergências com o diretório mineiro do PMDB. Ele chegou a concorrer ao governo de Minas, mas perdeu a disputa para a antiga legenda.
O infausto acontece justo no momento em que o cenário nacional carece de formuladores de peso nas altas casas legislativas de Brasília. Por isso mesmo, havia a esperança de que com a volta de Itamar Franco ao Senado como representante do estado de Minas Gerais, o debate de alto nível ganhasse aliado importante, em contraponto as discussões nem tão republicanas que se tem visto nos últimos anos naquela instituição. Infelizmente, o destino não permitiu ao país esse período de aperfeiçoamento democrático.
Itamar era daqueles políticos que pregavam a coerência como norte. Em vista dessa
Característica, não foram poucas as desavenças com ex-aliados que marcaram sua trajetória. Nesse sentido, se certas ou erradas suas atitudes em alguns momentos, é inegável o exemplo que deixa ao país.
Seja com relação à defesa intransigente do nacionalismo, ou na transparência na condução da coisa pública, mas principalmente quanto ao caráter conciliador que o fez dirigir com maestria o Brasil em um dos mais turbulentos períodos de sua história recente. Foi a partir desse estilo “mineiro” de fazer política que Itamar entrou definitivamente para a história com a criação do Plano Real, possibilitando o saneamento da economia, abrindo caminho para o que o Brasil é hoje.
Mesmo com as análises depreciativas sobre sua figura quanto a episódios pontuais acontecidos na passagem pela Presidência da República, Itamar Franco soube se manter fiel ao que se propôs como homem público, não se servindo do cargo, mas o assumindo como missão.
O Brasil, portanto, deve muito ao ex-presidente Itamar, tanto no aspecto da condução da política econômica, como pela habilidade de saber guiar o país no momento complexo quando assumiu os destinos da nação. Mas o País deve muito também pelo exemplo de político que são tão raros atualmente.
ANGELA ALCANTARA – JORNALISTA