“Passei as instruções de modo bem conciso para os alunos, e recebi quatro ou cinco opções diferentes”, lembra o Webb. “A maioria delas foi o que eu havia pedido, mas uma quebrou as regras das instruções e foi exatamente o que eu disse que não queria. Foi, de longe, a melhor de todas.”
A proposta ardilosa foi de Schulze. Eles começaram a trabalhar juntos informalmente e, então, fundaram o grupo de design Berg, em Londres, em 2005. Desde então estão na linha de frente dos experimentos na humanização da tecnologia.
Mostra no MoMA
“O trabalho do Berg está focado no limite onde as nossas vidas físicas e virtuais convergem: o espaço onde vamos passar mais e mais tempo no futuro”, disse Paola Antonelli, curadora-sênior de arquitetura e design do MoMA. “Eu os considero um sólido protótipo da prática verdadeiramente contemporânea do design.”
Em “Talk to Me”, a premissa subjacente do trabalho do Berg, e de outros designers que se dedicam à tecnologia, é que a tecnologia tem um potencial imenso de melhorar nossas vidas se -e aqui temos um gigantesco “se”- ela puder ser traduzida em formas que a tornem útil, atraente e acessível. Do contrário, mesmo os mais promissores avanços tecnológicos correm o risco de parecer tão obscuros e intimidadores que não conseguiremos aproveitá-los ao máximo.
O grupo Berg e seus pares usam o design tradicional como uma ferramenta no processo de tradução, mas eles também desenvolveram novos meios de permitir que as pessoas sejam atraídas e utilizem a tecnologia, sentindo-se confiantes ao usá-la. O Berg faz isso ao transformar tecnologias complexas em produtos divertidos e bem-humorados. O site Dimensions, da BBC (
howbigreally.com) anima eventos históricos ilustrando seus efeitos em mapas de satélites de áreas conhecidas.
Notas fiscais "interativas"
O grupo produziu recentemente uma proposta para que as notas fiscais de alguns cafés ficassem mais interessantes ao acrescentar nelas informações como as mais recentes manchetes dos sites favoritos dos clientes, ou uma lista de filmes que estão sendo exibidos nos cinemas locais. O tipo de informação que mais tem potencial para agradar o consumidor seria identificado a partir de dados captados quando eles fossem passar o cartão de crédito.
“Historicamente, o design se associou à utilidade e à resolução de problemas, mas preferimos a paisagem da invenção, da diversão e do estímulo cultural”, diz Schultze. “Quando a tecnologia é infinitamente complexa, e nossa atenção cada vez mais finita, é difícil produzir algo sobre o qual se pode atuar e observar em nível humano e cultural.”
Durante os quatro primeiros anos de vida do Berg, Schultze, 35, que começou com design gráfico antes de estudar design interativo, e Webb, 33, um físico que virou programador, trabalharam sozinhos, contratando especialistas freelancers quando necessário. Em 2009, eles resolveram expandir e trouxeram Matt Jones para o projeto, um designer de produtos e serviços digitais que fora contratado pela Nokia quando ela se tornou o primeiro cliente do grupo em 2005, como o terceiro cabeça do grupo. Agora eles trabalham em um time de 13 pessoas, espremidas em um escritório no leste de Londres, numa região conhecida como “Silicon Roundabout” (“rotatória do silício”), pelo fato de haver muitas empresas de tecnologia ali sediadas.
Clientes da mídia
A maioria dos clientes do Berg são empresas de mídia: emissoras, como a BBC e o Channel 4 na Grã-Bretanha, e editoras, como a Bild, na Alemanha, e a Bonnier, na Suécia. Desde o começo, o Berg combina projetos experimentais (como as notas fiscais customizadas dos cafés, que se desenvolveu e se transformou em parte de um programa de pesquisas para o braço londrino da agência de publicidade japonesa Dentsu), com produtos “reais” usados por milhões de pessoas diariamente, como o Dimensions, da BBC, e a Mag+, uma plataforma de revista digital desenvolvida para a Bonnier.
A maioria das empresas que eles admiram trabalha de maneira similar, entre elas a Stamen, um estúdio de design e tecnologia em São Francisco, e a unidade de pesquisas Microsoft Labs. Outra favorita é vizinha do Silicon Roundabout, a Newspaper Club, que usa a capacidade ociosa da gráfica do jornal para produzir jornais personalizados baseados nas especificações dos clientes. “Eles são uma pequena empresa, mas muito ágil e que vem reunindo várias coisas diferentes, de modo muito engenhoso, em um só sistema inteligente”, explicou o Webb.
Até agora os designers do Berg tiveram sucesso ao usar projetos comerciais como meio de explorar os próprios interesses, além de experimentar novas áreas da tecnologia. “Inteligência artificial é uma área muito estimulante para nós agora, assim como a robótica”, diz Schulze. “Estamos muito interessados no ponto exato em que a robótica encontra o produto, e também em construir novas linguagens para deixar a tecnologia mais legível.”
Quadrinos com realidade aumentada
O Berg também pretende adotar especulações empresariais ao criar, produzir e vender seus próprios produtos, e eles começaram no mês passado, com a publicação de “SVK”, quadrinhos em “realidade aumentada”, no qual o grupo colaborou com o escritor Warren Ellis e com o artista Matt (D’Israeli) Brooker. “SVK” conta a história de um detetive que descobre um aparelho com o qual ele pode ler a mente das pessoas. Se você ligar, perto das páginas, a luz ultravioleta que vem com a revista, ela vai revelar esses pensamentos, impressos com tinta ultravioleta, acima da cabeça dos personagens.
A equipe do Berg reuniu os sistemas de produção, contratação de fornecedor, pagamento e envio da “SVK” na internet. A primeira edição, de 3.500 cópias, esgotou em dois dias, e só então o grupo descobriu que nove por cento das luzes ultravioletas, produzidas na China, estavam com defeito. O grupo trocou, pediu mil desculpas, e agora está imprimindo a segunda tiragem.
“Precisávamos saber como contratar fornecedores, como se relacionar com os fabricantes, o que acontece quando alguém clica o botão “comprar” e o que acontece quando eles estão insatisfeitos”, diz Webb. “Temos em mente mais projetos empresariais como este. Sempre tem alguma coisa no forno.”