O início da campanha eleitoral cria um novo ambiente de interesse político, abrindo espaço para que a realidade nacional e a local ganhem mais visibilidade, assim como a imagem dos políticos embrenhados na disputa. Para o cidadão, abre-se a oportunidade para exercer o seu censo crítico e avaliar as políticas públicas, os projetos em andamento e as novas propostas, bem como o desempenho de seus representantes.
A realização de eleições a cada dois anos – uma tendo como foco as realidades nacional e estadual, e a outra, a realidade local tem vantagens e desvantagens. De um lado, o frequente comparecimento às urnas exercita a capacidade de discernimento do cidadão, levando-o a apurar a cada pleito suas opções e com isso fortificando sua consciência política - e isso é positivo. O outro lado da moeda é que o espaço amiudado entre uma eleição e outra interfere na administração, já que um pleito está ligado ao outro, em vista das alianças políticas para manter ou disputar o poder (nas instâncias federal, estadual e municipal) e isso termina por prejudicar o andamento da administração, inclusive, em face da lei das inelegibilidades, restringindo o trabalho dos administradores durante o período da campanha eleitoral (seja na programação dos investimentos, na implantação de projetos ou na movimentação dos recursos humanos).
Para o eleitor, o momento é de atenção crítica para a análise das propostas a serem apresentadas pelos candidatos, a verificação de sua credibilidade e coerência. Dá para desconfiar, por exemplo, quando o político muda o seu discurso na véspera da eleição, sem guardar coerência com as posições que defendera até então. De outra parte, é preciso tentar ao máximo identificar o grupo de interesses a que o candidato está ligado – se legítimos ou não, se voltados para o bem comum ou para interesses grupais; se se trata de projeto coletivo ou pessoal; se a vida pregressa do candidato revela seu envolvimento com as causas de interesse público, qual o conteúdo programático e ideológico de seu compromisso. Enfim, é preciso expressar um voto consciente, levando em conta que uma escolha mal feita pode terminar trazendo prejuízos para a vida do próprio eleitor.
É preciso, cada vez mais, apostar em projetos e não em indivíduos, escolhendo aqueles que estejam ligados claramente a uma causa de interesse da sociedade. Infelizmente, o processo eleitoral brasileiro ainda é calcado no indivíduo e não no projeto, mas, cabe ao eleitor, desde já, corrigir essa situação, enquanto espera que uma reforma política e eleitoral verdadeira corrija essa deformação. Se escolher os representantes identificados com a defesa dessa reforma, já estará, concretamente, dando um passo para sua efetivação.
ANGELA ALCANTARA – JORNALISTA