BRASÍLIA - O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) anda intrigado com o motivo que fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não recebê-lo na última segunda-feira. Ele foi o único dos cinco pré-candidatos petistas à prefeitura de São Paulo a não conversar com o ex-presidente, que não esconde sua preferência pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, para disputar a eleição em 2012. Sem ser agressivo - o senador se despede com um "abraço sempre amigo" - mas não deixando de dar algumas alfinetadas, Suplicy mandou um e-mail a Lula e depois o divulgou à imprensa. O senador se queixa, manifestando a preocupação em dar uma satisfação a seus eleitores, que, "naturalmente", lhe peguntam o porquê de Lula não querer conversar com ele.
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O espanto de Suplicy é maior porque ele tem, segundo diz, qualificações que não são ignoradas pelo ex-presidente. Em um um trecho do e-mail, Suplicy faz questão de lembrar que "você (Lula) está consciente que há cinco pré-candidatos, inclusive eu, que fomos convidados a dialogar com todos os filiados e moradores dos 36 Diretórios Zonais de São Paulo, entre agosto e outubro". Ele acrescenta logo em seguida que "por alguma razão não explicada a mim, preferiu não me convidar para dialogar, muito embora saiba que, de todos os nomes do PT ao longo dos nossos 31 anos, o que teve maior proporção de votos, no município de São Paulo, na última eleição para o Senado em 2006, tenha sido eu com 51,37% dos votos".
Sem ser muito direto, Suplicy reclama de uma promessa de quase dois meses ainda não cumprida e contra a qual o tempo está correndo. Ele afirma que em julho pediu a Clara Ant, assessora do ex-presidente, um encontro com ele. No entanto, "ela informou-me que sua agenda estava lotada, com muitas viagens, e pediu para esperar o mês seguinte, agosto, que já está terminando". Além disso, afirma Suplicy, já no primeiro semestre deste ano, transmitiu uma mensagem a Lula informando que gostaria de conversar com ele "sobre diversos assuntos, dentre os quais a sua interação com os países da África".
Suplicy também defende no e-mail a realização de prévias para a escolha do candidato a prefeito, afirmando que "o PT dá um exemplo de democracia" quando as faz. Lula, no entanto, pensa diferente e prefere que o partido entre na disputa com um único postulante, justamente o ministro da Educação. Se por um lado o senador morde - mesmo que de forma bem sutil - logo em seguida ele trata de assoprar, afirmando que "é meu compromisso, já expresso nas reuniões do partido, apoiar com entusiasmo aquela pessoa que se consagrar vencedora".
Veja a íntegra do e-mail:
"Caro Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Ainda no primeiro semestre de 2011, transmiti-lhe que gostaria de fazer uma visita para conversarmos sobre diversos assuntos, dentre os quais a sua interação com os países da África. Em novembro de 2010, fiz uma palestra em Cartum para todos os ministros de desenvolvimento social da África, em que expus os avanços obtidos por seu governo com os programas sociais, em especial o Bolsa-família, e a perspectiva da Renda Básica de Cidadania - RBC. Na ocasião, foi muito bem recebida a informação de que você iria se dedicar a levar a experiência brasileira para a África. Em fevereiro último visitei uma vila de mil habitantes, Ojtivero, na Namíbia, onde há três anos se desenvolve uma experiência pioneira da RBC. Conversei no mês passado com a Clara Ant que gostaria de marcar o dia da visita. Ela informou-me que sua agenda estava lotada, com muitas viagens, e pediu para esperar o mês seguinte, agosto, que já está terminando.
Na última segunda-feira, 22, os quatro dos cinco pré-candidatos do PT a Prefeito de São Paulo foram recebidos por você. Você está consciente que há cinco pré-candidatos, inclusive eu, que fomos convidados a dialogar com todos os filiados e moradores dos 36 Diretórios Zonais de São Paulo, entre agosto e outubro. Por alguma razão não explicada a mim, preferiu não me convidar para dialogar, muito embora saiba que, de todos os nomes do PT ao longo dos nossos 31 anos, o que teve maior proporção de votos, no município de São Paulo, na última eleição para o Senado em 2006, tenha sido eu com 51,37% dos votos. Naturalmente os meus eleitores me perguntam por que o Presidente Lula não quer conversar comigo, em que pese ter uma história de colaboração leal aos objetivos e anseios maiores de nosso partido desde 10 de fevereiro de 1980.
Realizo hoje palestra no Seminário sobre as Perspectivas de Integração da América Latina na Universidade de Direito de Buenos Aires. Encaminho-lhe, em anexo, cópia de minha palestra intitulada "O Melhor Programa de Transferência de Renda para as Economias Modernas".
Nesse trabalho, como poderá notar, conclamo as grandes metrópoles da América Latina como Buenos Aires, São Paulo, Montevidéu, Assunção e Cidade do México a realizarem experiências pioneiras da RBC. Em meus diálogos com a militância do PT e com meus colegas pré-candidatos a prefeito de SP tenho falado sobre esse tema, que felizmente tem sido muito bem acolhido.
Como é de seu conhecimento, acho que o PT dá um exemplo de democracia quando realiza prévias para a escolha de seu candidato. É meu compromisso, já expresso nas reuniões do partido, apoiar com entusiasmo aquela pessoa que se consagrar vencedora.
O abraço sempre amigo
Eduardo"