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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Greve da polícia no Rio de Janeiro e na Bahia ameaça Carnaval


RIO DE JANEIRO — A greve de policiais e bombeiros do Rio de Janeiro decretada nesta sexta-feira soma-se à de seus companheiros da Bahia e ameaça o Carnaval, mas as autoridades garantem que, se for necessário, o Exército patrulhará as duas cidades, onde milhares de turistas são esperados.
Centenas de policiais civis, policiais militares (PM) e bombeiros do Rio votaram a favor da greve levantando as mãos na noite de quinta-feira, em uma assembleia pública realizada na Cinelândia a uma semana do início do Carnaval, uma das maiores festas do mundo.
Apesar disso, a situação nas ruas do Rio era de normalidade nesta sexta-feira, e o Comando da PM do Rio afirmou que todas as suas unidades estão trabalhando.
Em um episódio isolado, um carro policial foi atacado a tiros por um grupo de 15 motocicletas na Zona Norte. Ninguém ficou ferido, de acordo com o coronel da PM, Federico Caldas, em entrevista à rádio CBN.
"O Comando da Polícia Militar informa que todas as suas unidades estão em pleno funcionamento, contando inclusive com o apoio de policiais do Batalhão de Operações Especiais e do Batalhão de Choque nas patrulhas", indicou o comando da Polícia Militar em um comunicado.
"Não há paralisação de nenhum tipo de serviço para o cidadão. A Polícia Militar reitera seu compromisso com a segurança da população do Rio de Janeiro", acrescentou a nota.
O coronel Caldas disse ainda à CBN que "foram emitidos 11 mandatos de prisão para os principais líderes do movimento" de protesto no Rio.
"Haverá uma resposta dura (...) para os policiais que cruzarem os braços. É inaceitável que rompamos o juramento que fizemos de proteger a sociedade", disse Caldas.
"Um grupo de policiais anunciou uma greve, mas não são todos (...) O Carnaval será realizado normalmente, e por enquanto não há necessidade de reforços das Forças Armadas", disse à AFP uma porta-voz da PM do Rio que quis se identificar apenas como "a soldado Carini".
Caso a greve se estenda, as autoridades preveem a chegada ao Rio de 14 mil soldados e agentes da Força Nacional de Segurança para garantir a tranquilidade do Carnaval, que começa no dia 17 de fevereiro.
"De forma alguma queremos acabar com o Carnaval. Começa em oito dias e temos a convicção de que chegaremos antes a um acordo", afirmou, por sua vez, o sargento dos bombeiros, Wallace Rodrigues, em coletiva de imprensa dos sindicalistas.
"É prematuro falar de porcentagem de grevistas porque a greve começou há nove horas, mas não há carros da PM nas ruas e as delegacias estão fechadas", afirmou, por outro lado, Francisco Chao, diretor do sindicato da Polícia Civil, na mesma coletiva.
Os salários da polícia do Rio estão entre os mais baixos do país, e rondam os 1.200 reais iniciais.
Os grevistas estão insatisfeitos com o aumento progressivo de 39% dos salários aprovado na quinta-feira à tarde na Assembleia Legislativa, e exigem um piso salarial de 3.500 reais, além de 700 reais em vales transporte e alimentação.
Carlos Gadelha, presidente do sindicato da Polícia Civil, destacou que "os salários da PM do Rio são os segundos piores da categoria no Brasil, e os da Polícia Civil são os piores do país, quando o Rio é o estado que possui a maior arrecadação" graças ao 'royalties' do petróleo.
Os policiais e bombeiros do Rio também protestam contra a prisão na quinta-feira de um líder sindical dos bombeiros, Benevenuto Daciolo, acusado pela justiça de promover um motim e ameaçar
O protesto no Rio se soma ao iniciado há dez dias pela Polícia Militar da Bahia, que provocou uma onda de violência com um registro de mais de 120 mortos, mais do que o dobro da média normal, sobretudo na capital do estado, Salvador.
O número de mortes violentas caiu na Bahia após a chegada de 3.500 soldados e policiais de elite que garantem a segurança do estado.
Mais de 200 policiais militares amotinados na Assembleia Legislativa da Bahia desocuparam o edifício pacificamente na quinta-feira e quatro dos 12 líderes grevistas foram presos, mas o protesto continua.

Agentes de segurança do Rio de Janeiro entram em greve

 Mais de 500 manifestantes, entre policiais civis e militares, bombeiros e agentes penitenciários, comparecem à praça da Cinelândia



Os Bombeiros, a Polícia Militar, a Polícia Civil e os agentes penitenciários do Rio de Janeiro entraram em greve oficialmente às 23h30 desta quinta-feira. A partir da 0h, todos os policiais ficarão aquartelados em seus respectivos batalhões.
A orientação do comando de greve é que nenhum PM ou bombeiro saia para ocorrência alguma.  A Polícia Civil também não atenderá ocorrências nas delegacias.
O sargento do 1º GSE (Grupamento de Socorro e Emergência) Paulo Nascimento havia afirmado mais cedo que o governador Sérgio Cabral teria até 23h59 de hoje para aceitar as reivindicações da categoria e evitar uma greve geral das entidades de classe da segurança pública fluminense.
Segundo o sargento do Corpo de Bombeiros, a ideia dos grevistas é a de "evitar o pânico". Por esse motivo, os manifestantes pedem que a população do Rio "evite transitar pelas ruas a partir de amanhã", conforme anunciava uma mensagem de um carro de som próximo ao palanque montado na praça da Cinelândia, no centro do Rio.
"Essa medida é para evitar acidentes ou colisões. A gente não quer criar pânico. Acendemos um pavio e, se tiver explosão, é culpa do governador", disse.

Nascimento afirmou ainda que não tem medo de ser preso, a exemplo do cabo Benevenuto Daciolo --líder do movimento S.O.S Bombeiros que foi preso na noite de ontem após divulgação de uma interceptação telefônica na qual ele supostamente "incita" a greve.

"Nosso movimento não tem uma só liderança. Na verdade, nós somos líderes das nossas famílias, e por elas que estamos lutando. Eu perdi o medo há muito tempo. Desde o dia em que invadiram o quartel central da corporação e nós não desmobilizamos", finalizou.

Assembleia

Cerca de 2.500 manifestantes, entre policiais civis e militares, bombeiros e agentes penitenciários, compareceram na noite desta quinta-feira (9) à praça da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, para a assembleia conjunta que definiu o início da greve.
O momento de maior comoção entre os manifestantes foi quando uma das lideranças anunciou que todo o efetivo do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar foi proibido de deixar os quartéis. Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Rio, Sérgio Simões, os militares estão em regime de prontidão, e não de "aquartelamento". O comando da PM ainda não se pronunciou sobre o assunto.

Reivindicações

De acordo com o sargento Paulo Nascimento, lotado no 1º GSE (Grupo de Socorro e Emergência), as principais reivindicações unificadas das quatro forças da segurança pública do Rio são: piso salarial de R$ 3.500, auxílio-alimentação na ordem de R$ 350 (e fim dos ranchos nos quartéis), e uma jornada de trabalho de 40 horas semanais.

Os militares aceitam uma carga horária maior do que a reivindicada, desde que o governo do Estado pague hora extra.

O governo já descartou o piso de R$ 3.500 e mandou um projeto de lei sobre o reajuste aos deputados, que o aprovaram nesta quinta-feira. O projeto define que todas as 11 parcelas do aumento previsto para este ano (0,915% mensal) serão aplicadas já neste mês. Até fevereiro de 2013, isto é, em um período de um ano, o somatório do reajuste escalonado será de 39%, e o piso salarial chegará a R$ 2.077 --considerando o adicional do auxílio-moradia (R$ 551,36). Policiais civis e agentes penitenciários não recebem tal benefício.

Após uma reunião emergencial do governador Sérgio Cabral (PMDB) com a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha, e o presidente da Alerj, Paulo Melo (PMDB), na noite de ontem, o governo do Estado fez uma nova proposta: além da antecipação do reajuste escalonado --que foi aprovado em 2010--, os profissionais da segurança pública terão direito a uma nova reposição em 2014.
O aumento previsto para daqui a dois anos levará em consideração a inflação acumulada do IPCA em um espaço temporal de 12 meses (de fevereiro de 2013 a fevereiro de 2014), e corresponderia, segundo o governo estadual, ao dobro da inflação no período.
Além disso, os servidores serão beneficiados a partir de 2014 com um auxílio-transporte no valor de R$ 100 mensais e a garantia de que não mais haverá corte da gratificação da Delegacia Legal em caso de afastamento por acidente de trabalho.

Deputada cobra "direitos iguais"

A deputada estadual Janira Rocha (PSOL), que aparece em gravações telefônicas autorizadas pela Justiça e exibidas pelo "Jornal Nacional" articulando o movimento grevista junto com o cabo do Corpo de Bombeiros Benevenuto Daciolo, uma das lideranças do movimento, cobrou "direitos iguais" ao comentar a prisão de Daciolo, na noite de ontem –realizada após a divulgação das gravações.

"Eu tenho a liberdade de falar, pois vivemos em uma democracia. Nós estávamos discutindo sobre o momento do ponto de vista político. A presidente da República, Dilma Rousseff, fatalmente ligou para o governador Sérgio Cabral para debater sobre o assunto e falar sobre as perspectivas do governo. O mesmo direito que ela tem, eu tenho", argumentou.

Segundo a parlamentar, ela mantém "contatos regulares" com Daciolo desde o movimento grevista do Corpo de Bombeiros iniciado no segundo semestre do ano passado.

"A diferença é eu honro as minhas calças e assumo isso. Não há problema nenhum em discutir política seja com o Daciolo ou qualquer outro integrante do movimento", afirmou.

"Meu marido não é bandido”

A mulher do cabo Benevenuto Daciolo afirmou que o marido está sendo mantido em uma penitenciária de segurança máxima (Bangu 1, na zona oeste), a mesma utilizada para abrigar criminosos de alta periculosidade.
Segundo Cristiane Daciolo, que está na assembleia das categorias, este será o argumento do defensor público do marido na hora de protocolar o pedido de habeas corpus.
"A prisão do Daciolo é totalmente ilegal. Ainda não consegui contato com ele, pois meu marido está isolado em Bangu 1, não nos deram qualquer tipo de acesso a ele, nem para a família nem para o defensor público. Meu marido não é bandido. Estão negando a ele o seu direito de defesa", disse.
Cristiane reclamou que o coronel Sérgio Simões, comandante do Corpo de Bombeiros, não autorizou que ela e a filha visitassem Daciolo quando ele ainda estava detido no quartel central da corporação.
"O Simões não quis nos receber e deixou com que eu e minha filha ficássemos até cinco horas da manhã na porta do quartel, sentadas na calçada", afirmou.
O último contato que Cristiane teve com o marido foi quando ele ainda estava no avião, voltando da Bahia em direção ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão. "Ele já sabia que ia ser preso quando desembarcasse e me ligou para avisar”.
Na versão de Cristiane, o cabo líder do movimento grevista só viajou para a Bahia a convite de um juiz militar e da AMB (Agência de Magistrados do Brasil). "Eles queriam que o Daciolo ajudasse e intermediasse e negociação com os policiais militares da Bahia. Acredito que a desocupação da Assembleia Legislativa só foi possível por causa dele", finalizou.