Presidente do sindicato dos professores do Ceará rebate o governador: Cid Gomes disse que professor tem de trabalhar por amor, não por dinheiro
O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), deu uma declaração sobre os professores da rede estadual de ensino – em greve por melhores salários há 25 dias – que repercutiu mal e acirrou ainda mais os ânimos entre os dois lados.
"Quem entra em atividade pública deve entrar por amor, não por dinheiro”, disse o governador. “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado". Para o presidente do Sindicato dos Professores do Ceará, Anízio Melo, é fácil falar em amor e espírito público quando se tem um salário de governador.
“Para o governador, como também no Parlamento, talvez seja mais fácil falar de amor porque seus salários pagos pelos contribuintes são bem superiores aos dos professores”, criticou o presidente do sindicato. O salário de um deputado estadual do Ceará equivale a 75% do que ganha um deputado federal, o que dá algo em torno de R$ 20 mil. Já o chefe do executivo cearense recebe mais de R$ 13 mil.
A declaração do governador cearense causou reação também nas redes sociais. Internautas criticaram Cid e vários sugeriram que ele “governasse por amor” e “doasse seu salário”.
A remuneração inicial para 40 horas semanais de trabalho, para os professores, é de R$ 1,3 mil por mês – o quinto menor de País. É menos da metade do que ganha um professor no Maranhão, por exemplo.
O governo pondera, no entanto, que a maioria dos professores efetivos está em um nível superior da carreira e, somando as gratificações, recebem R$ 2,2 mil por mês. “Falar em amor diante de um salário miserável é praticamente impossível”, disse o presidente do sindicato.
Opinião de Cid
Diante das reivindicações dos professores, em greve há 25 dias, Cid declarou que “governador, prefeito, presidente, deputado, senador, vereador, médico, professor e policial devem ter como motivação para entrar na vida pública amor e espírito público” e que “quem está atrás de riqueza deve procurar outro setor e não a vida pública”.
A afirmação já havia sido atribuída ao governador e irritou a categoria ao ser proferida novamente, quando a imprensa pediu um “tira-teima”. “É uma afronta a todos profissionais de educação que cuidam dos filhos dos trabalhadores nas escolas públicas. Não entendemos como o governador faz uma colocação dessas. Para nós, foi um desrespeito”, afirmou Anízio Melo.
Defesa
O líder de Cid na Assembleia, deputado Antonio Carlos (PT), afirmou à reportagem do iG que Cid foi mal interpretado. Para ele, Cid disse apenas que o amor deve ser a motivação inicial, mas que o salário é importante também. O petista, que é professor concursado da rede estadual, afirmou que “as duas coisas andam juntos”. “Eu não faço essa dicotomia. O trabalhador sempre vai lutar por melhores condições. Tem que ter um salário bom”.
Oposição
O deputado Heitor Férrer (PDT) – voz dissonante na Assembleia por ser o único a fazer oposição a Cid desde o primeiro mandato – acusa o governo de não dar a devida atenção à educação. Segundo o pedetista, a questão não é de ordem econômica. “O Estado do Ceará tem cantado em verso e prosa ao longo do governo que tem feito uma arrecadação como nunca antes. Tem se propagandeado como uma máquina arrecadadora. Obviamente o problema não é financeiro. É de prioridade”, afirmou ele.
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