Ciudad Juárez (México) 17 ago (EFE).- O culto à Santa Morte ganhou seguidores entre os moradores da cidade de Ciudad Juárez, a mais violenta do México, cujo território é disputado palmo a palmo pelos cartéis das drogas.
Com várias centenas de devotos, em apenas dois anos já foram abertos três templos diferentes para se rezar e fazer oferendas à também chamada "Niña Blanca", uma imagem esquelética vestida de mulher.
Um dos fatores que impulsionou o crescimento do culto em Juárez, cidade fronteiriça a El Paso (Texas, EUA), é a presença de milhares de agentes da Polícia Federal, que põem em risco suas vidas no combate aos narcotraficantes.
Alguém que vive em risco, como os policiais federais, ou "realmente qualquer pessoa que viva aqui em Ciudad Juárez, precisa de maior proteção. E se há alguém que pode salvar de uma morte trágica, é a Santíssima Morte", disse à Agência Efe Yolanda Salazar, sacerdotisa de um dos templos.
Os traficantes de drogas e inclusive os moradores de bairros invadidos pela violência imploram à Santa Morte para que os proteja, algumas vezes erguendo capelas com sua imagem na qual deixam esmolas, tequila, charutos e doces.
O culto à Santa Morte remonta a 1795, segundo diversos pesquisadores, quando os indígenas adoravam um esqueleto ao qual chamavam Santa Morte em um povoado do centro do país, e há testemunhos de que este culto permaneceu oculto nos últimos dois séculos.
No entanto, os especialistas concordam em que o culto se expandiu de forma explosiva a partir da crise econômica de 1995, quando a adoração à Santa Morte sai de seus altares domésticos e invade as ruas e lidera procissões e festas públicas religiosas com centenas de participantes.
Esta manifestação religiosa inclusive ultrapassa as fronteiras do país levado por emigrantes que o promovem em outros países.
Recentemente, agentes da Polícia Federal desmantelaram em Juárez uma casa de segurança utilizada para deter vítimas de sequestro e foram encontrados um altar com uma caveira vestida com traje de noiva, dois crânios e quadros de adoração à Santa Morte.
Devido a que a Igreja Católica não reconhece o culto à Santa Morte, os seguidores começaram a pôr pequenos altares dentro de suas casas para pedir-lhe proteção e agora já estão erguendo templos na cidade, explicou Salazar.
"Precisávamos de um lugar aonde o povo pudesse comparecer para venerar a Santa Morte, porque é provável que nem toda família seja devota e os que o são não podem ter um altar próprio. Então aqui podem vir e fazer suas oferendas e adorações", acrescentou.
O templo, que fica aberto 24 horas durante toda a semana, fica cheio particularmente aos domingos, dia em que se oferece uma missa à "Niña Blanca".
Famílias inteiras, homens que chegam de outros estados do México, policiais e donas de casa se reúnem para rezar o Rosário à Santa Morte, liderado pela sacerdotisa do templo, cuja fachada é pintada de preto e com letras brancas.
Ao entrar no santuário há um pátio decorado com uma gigantesca figura da Santa Morte, onde as pessoas oferecem desde pão até joias valiosas.
O rito é realizado na sala interior, enfeitada com velas e centenas de figuras de diferentes tamanhos.
Um dos presentes ao ritual que pediu para não ser identificado declarou à Efe que é adorador da figura desde que supostamente recebeu ajuda da Santa Morte quando tentaram assassiná-lo.
"Já me tinham dito que iam me matar, porque não paguei um dinheiro que devia. Uma vez me agarraram e iam me matar. Escutei o tiro, mas graças à 'Niña Blanca' não me aconteceu nada. Por isso venho rezar", explicou antes de entregar uma oferenda de flores à Santa Morte.
Salazar disse que, ao contrário do que geralmente se acredita, "a Santa Morte, traz unicamente proteção".
"É uma entidade protetora, benévola justa e equitativa. Deus lhe entregou o mundo em suas mãos, já que ela se dedica a recolher as almas quando a chama da vida se extingue", comentou.
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