PEQUIM - Chen Rong sabia que seu site ibribery.com estava com os dias contados. A ideia de lançar na China uma cópia do site indiano "paidabribe.com" para denunciar a corrupção que vigora no país deu certo, mas durou menos de um mês. Apesar do sucesso - 60 mil leitores diários, 1.600 adesões e mais de 10 mil denúncias na semana do lançamento - o ibribery.com não escapou da censura e foi fechado, assim como outros sites do gênero (www.522.phone.com, www.wohuixingle.info).
Sabendo que o portal estava na mira do poder, Chen manteve-se discreto, publicando as denúncias sem citar a identidade dos corruptos. Convencidos da seriedade do convite "Conte-nos como subornou para que a corrupção não tenha mais onde se esconder", milhares de internautas relataram suas experiências.
Um deles afirmou que deu 3 milhões de iuans (cerca de US$ 430 mil) para ganhar um contrato de obras públicas. Outros listaram presentes para a polícia, sobretudo carros importados. Uma senhora explicou que temendo um mau atendimento durante o parto da filha, distribuiu envelopes recheados a médicos e enfermeiras. "Não creio que cometi um crime, todos os chineses agem assim, não?" Ela se referia ao hongbao, o envelope vermelho com cédulas de 100 iuans (US$ 15) que, contam, quadros do Partido Comunista costumam receber para resolver vários tipos de problema: bolsas de estudo nos Estados Unidos ou Europa e até placas de automóvel.
O problema é tão amplo que nas comemorações do 90 aniversário do Partido Comunista Chinês, em julho, o presidente Hu Jintao assegurou que "a corrupção é uma ameaça de morte para a China e para o PCC, pois acaba com a confiança do povo nos dirigentes". E com razão porque, segundo relatório do Banco Popular da China, em 20 anos foram desviados por funcionários, diretores-presidentes de estatais, dirigentes políticos e quadros do PCC mais de US$ 120 bilhões.
Departamento de prevenção à corrupção é acusado
Periodicamente o governo lança campanhas, como a denominada "Bater com força". Em julho, vice-prefeitos de Hanzhou e Suzhou, cidades turísticas da região de Xangai, foram executados por aceitar US$ 50 milhões de suborno. Li Zhijun, o ministro das Ferrovias, foi demitido no início do ano após a descoberta de que juntou US$ 700 milhões, graças aos 3% que cobrava das empreiteiras.
- São peixes pequenos ou acertos de conta no partido - argumenta o analista Chu Zhang. - Se o governo quisesse realmente punir a corrupção não teria fechado o ibribery.com.
O jornalista Xiao De, do semanário "Guoji Xianqu Daobao", acha que o problema é a perversão capitalista, pois "não há mais valores, a ganância transformou chineses em vândalos".
Em 2007, o governo criou o " Departamento Nacional de Prevenção da Corrupção". Mas a revista econômica "Caijin" apontou o departamento como um dos mais corrompidos.
- Como uma pirâmide, a corrupção vai da cúpula até a base. Enquanto o sistema de partido único perdurar, o povo pode denunciar, mas no final terá que apelar para o Hongbao - concluiu o professor Sun Jianjun.
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