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terça-feira, 26 de julho de 2011

Falta de coordenação prejudica rebeldes na Líbia


Escassez de munição e comando militar evidência problemas do poderio bélico de grupos opositores líbios

Ahmad Harari, um rebelde que luta para derrubar Muamar Kadafi, contou como quase foi morto na semana passada. Ele fazia parte de um pequeno grupo de combatentes designados para defender uma posição da linha de frente em Qawalish, uma aldeia nas zonas áridas do planalto ocidental da Líbia. Em seguida, militares de Kadafi atacaram em picapes.
Harari disse que tinha apenas 18 cartuchos de fuzil, aproximadamente a mesma quantidade de munição transportada por todos em seu grupo. Dentro de minutos, ele saiu correndo. "Todos usaram todas as balas e tentaram fugir", disse ele. Um amigo foi capturado, morto e mutilado, ele disse, mas os outros conseguiram fugir.
Enquanto os rebeldes da Líbia esculpiram um enclave no oeste, a escassez de munição de grupos como a de Harari continua a extinguir a sua força militar. Há ausência de coordenação mesmo em questões tão básicas quanto certificando-se de que munição seja amplamente fornecida aos combatentes da linha de frente.
Foto: NYT
Grupode rebeldes líbios descansa em Al-Qawalish, na Líbia
Conforme a revolta que virou guerra na Líbia entra no seu sexto mês, os rebeldes anti-Kadafi das montanhas se reuniram em pequenos grupos de combatentes locais. Esses grupos - muitas vezes batizados de acordo com as cidades de seus lutadores - têm demonstrado tanto entusiasmo para lutar quanto uma vontade de trabalhar com quase qualquer um que possa ajudá-los a alcançar seu objetivo de expulsar a família Kadafi do poder.
Mas a coordenação entre eles, bem como o apoio logístico de seus comandos superiores e simpatizantes estrangeiros, não se desenvolveu de forma relevante. No leste da Líbia, as autoridades rebeldes falam sobre a criação do Exército nacional, mas no oeste, o Estado de desorganização oficial torna as perspectivas para tal uma força algo improvável a curto prazo.
Entrevistas com dezenas de rebeldes revelam um retrato de uma força de guerrilha que atua menos como uma estrutura coerente e mais como uma rede de clubes lutando entre si.
Grupos compartilham objetivos comuns, mas são prejudicados por rivalidades locais. Ordens do comando sênior regional são seguidas de forma arbitrária, inclusive, em Qawalish, ordens para que haja saque. A informação flui apenas parcialmente de cima para baixo na cadeia de comando.
Muitos lutadores dizem suspeitar que outros estão retendo armas e munições, além de outros bens essenciais. E quando lutam os diferentes grupos podem se mover aleatoriamente no campo de batalha, cada um segundo a sua própria vontade, enquanto os comandantes superiores - muitos deles ex-oficiais do Exército de Kadafi - permanecem muito atrás, fora de risco e longe das vistas.
Alguns ex-oficiais pró-Kadafi se recusaram a participar da luta, dizem os soldados rebeldes, fazendo de seu significado político seu principal valor, e não como eles podem influenciar a direção de uma guerra amarga que atinge aldeia atrás de aldeia.
Um rebelde de Gharyan, uma das cidades detidas pelas forças de Kadafi que agora está nas mãos de rebeldes locais, descreveu como os rebeldes pediram que um ex-coronel da Força Aérea os lidaresse na marcha para recuperar suas casas. "Pedimos a ele para ser o nosso comandante", disse o rebelde, Ziad, que pediu que seu sobrenome não fosse citado para proteger sua família. "Ele disse: 'Não, eu só sei trabalhos de escritório’. E ainda não temos um comandante”.
Os rebeldes nas montanhas atravessam muitas fronteiras e muitas vezes a composição de suas unidades é determinada por classe, etnia e tribo.
Lado a lado nos grupos estão estudantes universitários e seus professores, operários e contadores, advogados e engenheiros de petróleo. Em um grupo, um controlador de tráfego aéreo trabalhava ao lado de um professor da Universidade de Direito de Gharyan.
Experiência
Poucos desses homens afirmam ter tido qualquer experiência militar antes de pegar nas armas este ano. De muitas maneiras, considerando suas circunstâncias e origens, o seu sucesso tático tem sido notável. A população pobre começou a guerra com poucos braços para lutar contra uma força convencional, mas os rebeldes, auxiliados por ataques aéreos da Otan, têm perseguido soldados Kadafi de grande parte das terras altas da Líbia.
Muitas aldeias no planalto são hoje independentes do governo de Kadafi. Algumas, como Jadu, também são seguras o suficiente para que as famílias que fugiram dos combates voltassem ao local.
Mas há também um forte sentimento entre esses homens de que o que está por trás deles, de uma perspectiva militar, não era tão desafiador quanto o que está adiante, e que seu baixo nível de organização pode contribuir para as dificuldades. Política e socialmente, muitas das aldeias capturadas até agora eram fortemente anti-Kadafi. Mas muitas das vilas e cidades nas estradas para Tripoli, a capital, tem lealdades divididas. Algumas estão mais inclinadas ao clã Kadafi. 
Queixas entre tribos também se tornaram um fator visível – o que poderia tornar a luta mais feroz e mais generalizada.









E taticamente, as abordagens a algumas das cidades se estendem além da planície do deserto aberto, onde os rebeldes poderiam estar mais vulneráveis ao fogo das tropas de Kadafi. 
Minas
Além disso, conforme as forças Kadafi sofreram desgaste, elas passaram a depender mais de minas terrestres para defender suas posições, uma ameaça que poderia elevar as perdas rebeldes quando eles se moverem adiante.
Com o mês sagrado do Ramadã marcado para começar no início de agosto e as temperaturas do deserto durante o dia muitas vezes chegando a mais de 37 graus, o ritmo de luta abrandou. Os deveres de muitos grupos são muitas vezes tão simples quanto circular ao longo do dia na vigia da frente.
Mas essas mudanças revelam a fraqueza do comando rebelde. Rebeldes de Yafran de pé na linha da frente nesta semana afirmaram que seu grupo de combate tem menos rifles do que homens e que quando foram enviados à linha de frente receberam uma arma que deveriam devolver na base em seguida. Eles também recebem pouca munição. 
De maneira reveladora, em mais de duas semanas de entrevistas com rebeldes, nenhum disse ter visto os fuzis e metralhadoras que a França disse ter fornecido aos rebeldes na primavera. Todos disseram que seu rifle havia sido encontrado no campo de batalha. Muitos se perguntavam quem entre seus líderes ficou com as armas.
A escassez é um empecilho para as forças rebeldes. Antes da batalha recente em Kikla, os rebeldes disseram que tinham mais de 200 lutadores, mas apenas 89 fuzis e pouca munição. "Temos convicção", disse Ibrahim Suraya, líder do conselho de civis local. "Essa é a nossa arma."
As montanhas estão cheias de bravata e muitos rebeldes ecoam tais declarações. Deus está conosco, eles dizem. Vitória ou morte, outros afirmam. Ainda assim, outros se perguntam porque é que há munição suficiente para disparar em rajadas longas em funerais nas cidades, mas não o suficiente para a batalha. Jamal Akhmad, um engenheiro de petróleo de 52 anos esperava com homens mais jovens pela próxima batalha, mas procurava mais do que frases de efeito. Ele falou com calma e sem amargura sobre como partilha da opinião de um soldado da linha de frente. Sua queixa era tão antiga quanto a revolução e a guerra.
"As pessoas ficam confortáveis, sentadas em suas cadeiras, e se esquecem das pessoas", disse ele. "Isso é verdade também sobre a nossa comissão”.

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