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terça-feira, 26 de julho de 2011

Ajuda contra fome tenta romper bloqueio da milícia na Somália


Primeiro carregamento aéreo da ONU deve pousar em Mogadíscio. Milícia que controla sul do país é obstáculo para que alimentos cheguem aos famintos.


Criança subnutrida em campo de refugiado no Quênia

 Criança subnutrida em campo de refugiado no Quênia




O primeiro avião com alimentos deve pousar ainda nesta terça-feira (26/07) em Mogadíscio, na Somália, informou o Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (WFP, do inglês). Numa ação emergencial, a entidade montou uma operação aérea para tentar aliviar a fome de 12 milhões de pessoas no Chifre da África.

A operação, no entanto, demanda um grande esforço logístico de segurança. Nesta terça-feira, a WFP aguardava apenas o último passo formal para autorizar o voo. Na primeira remessa, serão entregues 14 toneladas de um suprimento especial indicado especialmente para crianças – contêm vitaminas e sais minerais, é rico em calorias e rapidamente absorvido pelo corpo.

A escolha do suprimento como primeira carga a ser levada à região em crise é justificada por Katharina Weltecke, do escritório alemão da entidade: "Seriam necessários de 600 a mil voos para transportar de 10 mil a 15 mil toneladas de trigo, por exemplo". "Por essa razão, a WFP se esforça muito para encontrar meios alternativos à opção por terra, que seria a melhor".

Depois de visitar Mogadíscio e o campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, Josette Sheeran, chefe do Programa Mundial de Alimentos, disse que a situação das crianças na Somália "é a pior já vista". "Vi dúzias de crianças que não conseguirão sobreviver. Conversei com muitas mães que deixaram os filhos mais fracos para trás, para poderem salvar os outros filhos", explicou.

Dificuldade em chegar

Observadores dizem que a carga chega tarde demais para evitar a catástrofe. No entanto, muitas organizações alegam dificuldade em chegar até os famintos – no sul da Somália, o acesso foi bloqueado pela milícia islâmica Shebab. O grupo, inclusive, chegou a afirmar que não há qualquer caso de emergência na região.

"Nós conhecemos, naturalmente, essa declaração. Al Shebab é uma organização de onde vêm muitas declarações diferentes. Parecia que eles estavam dizendo que nos deixariam entrar, e agora chegam outras informações. Procuramos, por meio da coordenação da ONU, encontrar um caminho e ganhar acesso. A situação na região é crítica, está virando cada vez mais uma questão de vida ou morte", disse, em Roma, Frances Kennedy, da secretaria de comunicação da WFP.

Para os voluntários da entidade a situação também é perigosa: 14 deles foram mortos no ano passado na Somália.
Ação da milícia islâmica

O grupo islâmico Al Shebab foi fundado em 1998, na Somália e teria ligações com a rede terrorista Al Qaeda. Durante a guerra civil somaliana, o grupo lutou principalmente contra as tropas etíopes estacionadas no país. Desde a saída da força estrangeira, há poucos anos, o Al Shebab continuou como movimento que tenta desestabilizar o governo de transição em Mogadíscio.

Com o controle do sul do país, onde a crise da fome é pior, o grupo quer impor as leis islâmicas e deseja fundar um Estado muçulmano que participe da Jihad mundial. Os moradores da região sofrem restrições impostas pela milícia: são obrigados a rezar na mesquita cinco vezes por dia; os homens precisam deixar crescer a barba e as mulheres devem cobrir o rosto com véus escuros. Tudo o que é considerado ocidental, como cinema ou futebol, é proibido.

Há dois anos, o Al Shebab proibiu a atuação de organizações internacionais de ajuda humanitária na região. Antes disso, com frequência, os rebeldes destruíam, saqueavam e revendiam os suprimentos, além de cobrar uma "taxa de segurança" de agências da ONU.

Diante da extrema seca, no entanto, no começo de julho, o grupo solicitou ajuda a essas organizações, dizendo que o socorro seria bem-vindo, sem levar em conta se a entidade fosse "muçulmana ou não muçulmana" – desde que os objetivos não fossem ocultos.

Na última sexta-feira, no entanto, a milícia voltou a se pronunciar contrária à ação humanitária internacional de ajuda contra a fome. Ali Rage, porta-voz do grupo, contestou que 2,2 milhões de pessoas precisem de ajuda no sul da Somália. Segundo ele, os relatos das Nações Unidas sobre a fome "são um completo absurdo, 100% sem fundamento e pura propaganda".

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