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sábado, 27 de agosto de 2011

De longe, intelectuais líbios já planejam como ajudar na reconstrução do país


BERLIM - Os rebeldes contra o regime do ditador Muamar Kadafi contam com um reluzente auxílio à distância: o dos intelectuais no exílio que lutam contra a ditadura. Seus textos ajudaram a dar voz ao sentimento de revolta depois de 42 anos de regime. Alguns não hesitaram em se engajar também na luta armada, como o sociólogo Nasser Hagagi, de 36 anos, há 11 morando na cidade alemã de Bielefeld e que ficou de março a abril lutando junto com as tropas dos rebeldes contra a ditadura.
- Quando vi que tinha chegado o momento de derrubar Kadafi, não hesitei e peguei o primeiro avião para Benghazi - conta o intelectual, que aprendeu a usar armas para ajudar a democratizar a sua pátria.
Depois do massacre praticado pelas tropas de Kadafi contra os rebeldes, Hagagi voltou para a Alemanha.
Embaixador líbio em Berlim seria executor de dissidentes
Já o jornalista Ali Zeidan, ex-diplomata que há 27 anos veio para o exílio na Alemanha, usou os seus textos, divulgados pela Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos, como armas contra a ditadura. Com a queda do regime, Zeidan, de 61 anos, quer trabalhar para a reconstrução da sua pátria: ele é o representante para a Europa do Conselho Nacional de Transição.
Tanto Zeidan, que já foi diplomata na Embaixada da Líbia na Índia, como o mais famoso escritor líbio, Ibrahim al-Koni, conheceram Kadafi pessoalmente. Em um contato inicial, relatam até ter sentido simpatia pelo revolucionário que derrubara um rei e prometera prosperidade ao país. Logo perceberiam que a situação após a entrada de Kadafi havia piorado.
No livro "Das Herrscherkleid" ("O traje do governante", em português), publicado pela Editora Lenos, de Zurique, o escritor, atualmente com 63 anos, mostra de forma kafkiana a sua visão de Kadafi e como a tirania ataca um país como um câncer.
Nascido no deserto no povo tuaregue, al-Koni viu a queda do ditador como a "reabilitação de um país" e, depois da democratização, pretende visitar a sua pátria com mais frequência, mas não planeja ingressar na política.
Já o jornalista Zeidan fez o que pôde para disseminar entre a colônia de refugiados políticos na Europa ideais de libertação por meio de livros, artigos em jornais e textos divulgados pela sua sociedade de direitos humanos. Na semana passada, com a queda do regime, ele embarcou para a Líbia a fim de estabelecer contatos com o Conselho Nacional de Transição. Por telefone, afirmou ao GLOBO que não há, de forma alguma, o risco de a Líbia se tornar o novo Iraque.
- A sociedade líbia continuará sendo de tribos, mas estas não vivem em conflito entre si - salienta.
Para o sociólogo Nasser Hagagi, a guerra pela libertação deixará cicatrizes profundas em um povo de seis milhões de habitantes que vive num país do tamanho da França e da Espanha juntas.
- Eu mesmo presenciei o massacre praticado pelas tropas de Kadafi - diz.
Hagagi veio para a Alemanha há 11 anos e pôde acompanhar como o regime "eliminava" as pessoas que considerava indesejáveis. Um dos executores das ordens de Kadafi era, segundo ele, o embaixador líbio em Berlim, Djamal al-Barag.
- Assim que foi divulgado que o regime de Kadafi havia caído, al-Barag viajou para um destino desconhecido, para não mais voltar. Ele sabe que pode ser julgado por ter assassinado, a mando de Kadafi, dissidentes líbios na Europa nos anos 70 e 80 - explica.
Músico aposta no potencial turístico da Líbia
Hagagi cogita a possibilidade de voltar para a Líbia, mas não tem um plano concreto - ao contrário do músico Abdellatif Angheriani, de 43 anos, que viveu os últimos dez em Bonn e já sabe como vai contribuir para a reconstrução do seu país: ajudando a desenvolver o turismo.
- A Líbia tem dois mil quilômetros de praias vazias porque, em um regime ditatorial, as pessoas simplesmente tinham medo de sair de casa. Agora, esse cenário poderá ser um capital para o desenvolvimento do turismo no país - ressalta.
Também podem contribuir para a ambição do músico os resquícios da presença romana. Sítios que fazem parte do Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco, como Leptis Magna e Soblade, a cerca de 200 quilômetros de Trípoli, ajudariam a fazer da Líbia um país não só rico em petrodólares, mas também uma meca do turismo, como berço de uma riqueza cultural até agora pouco explorada.
- O petróleo era concentrado nas mãos do clã dos Kadafi e amigos. Outras riquezas eram esquecidas e praticamente inexploradas - sentencia Angheriani.
Para o escritor Ibrahim al-Koni, o país vivencia ótimas perspectivas.

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