Os EUA vetarão o pleito palestino na ONU, mas se forem "inteligentes", aproveitarão para condicionar o status de membro a um acordo entre Israel e Palestina.
A previsão é do guru em assuntos internacionais do século 21, o cientista político americano Bruce Bueno de Mesquita, 64.
Professor da Universidade de Nova York, ele tem índice de acerto de 90%, segundo a CIA.
Usando um modelo baseado na teoria dos jogos, em que usa um computador, matemática e dados concretos, Bueno de Mesquita previu, entre outras coisas, quem seria o substituto do aiatolá Ruhollah Khomeini [morto em 1989] no Irã e a queda do ditador egípcio Hosni Mubarak em 2011.
Em entrevista à Folha por telefone, ele projetou um futuro pessimista para a Líbia.
Folha - O que o sr. prevê para o pedido palestino de adesão à ONU?
Vou dar opinião pessoal porque não apliquei o modelo à questão. Acho que o pedido de adesão será apoiado pela maioria da Assembleia Geral, mas os EUA vetarão no Conselho de Segurança. Mas, se os EUA forem inteligentes, usarão a oportunidade para impor condições: os palestinos teriam que adotar mudanças políticas e os israelenses também. Se as duas partes concordarem em realizar essas mudanças de políticas, então os palestinos seriam admitidos como Estado-membro da ONU e Israel poderia ser eleito para o Conselho de Segurança. O país é o único membro da ONU que não pode ser eleito para o Conselho de Segurança. Ou seja, se os EUA forem inteligentes usarão a oportunidade para ganhar influência com ambos os lados e, quando as condições impostas fossem cumpridas, resultaria na Palestina como Estado-membro.
Onde está o ditador líbio Muammar Gaddafi?
Não tenho a menor ideia e não acho que isso importa.
O que esperar para a Líbia?
Baseado na teoria dos jogos, mas sem os dados, haverá poucas mudanças. Os rebeldes lutarão entre si e executarão muita gente. Eles já estão perseguindo os líbios negros, identificando-os como mercenários. Gaddafi era opressor, os rebeldes também serão. Os EUA e a Otan deveriam ter se esforçado mais na Síria do que na Líbia. Acho que Gaddafi merecia ser deposto, mas o novo governo não será melhor do que o velho.
O sr. prevê uma invasão militar na Síria?
Não acredito que os EUA ou a Otan [aliança militar ocidental] intervirão, mas acredito que o regime cairá devido à pressão interna e ao corte de ajuda financeira dos vizinhos. A Síria será mais democrática, mas não uma democracia liberal madura. Há chances de que um eventual futuro governo se torne radical islamita. A Síria deve se tornar mais democrática, tratando melhor seus cidadãos. Não tenho esse otimismo quanto à Líbia.
Entre as previsões, há alguma da qual o sr. orgulha-se mais?
Na década de 1980, me pediram para achar uma forma de fazer com que [o ditador] Ferdinando Marcos saísse das Filipinas e houvesse uma eleição democrática. Sinto que, de certa forma, ajudei a fazer das Filipinas um país melhor. Na mesma época, encontrei uma forma para que China e Taiwan convivessem no Banco de Desenvolvimento Asiático. E, recentemente, concluí que, até 2014, os iranianos irão desenvolver material suficiente para construir armas atômicas, mas não irão fazê-lo. Querem apenas ganhar crédito político. Essa conclusão influenciou o relatório da inteligência dos EUA em 2007 que disse que não há evidências de que o governo iraniano constrói armas nucleares. Isso evitou que o [então presidente George W.] Bush atacasse o Irã.
Arrepende-se quando faz previsões erradas?
Sempre, mas aprendo com meus erros. A causa mais comum de erros é a qualidade dos dados que tenho disponíveis. Algumas vezes o modelo não é o apropriado para o problema que estamos analisando. Outras vezes, alguma coisa aparentemente sem relação com o problema acaba mudando radicalmente a previsão. Exemplo: a previsão para os próximos anos sobre as armas nucleares iranianas. Suponhamos que o líder supremo morra. Isso é algo relacionado à previsão e não mudaria o sistema radicalmente, mas pode mudar a previsão.
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