Em uma semana, feixes de luz irão recriar nos céus de Nova York dois espectros para finalizar as celebrações em memória da queda das Torres Gêmeas.
Será o fim simbólico também da década de guerra que sucedeu os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, ainda que, na prática, o conflito já tenha tido seu fim decretado -e, paradoxalmente, muito sangue ainda vá ser derramado por sua conta.
Explica-se. A crise econômica, iniciada em 2008 e com desenvolvimentos graves em curso, colocou o Ocidente todo em xeque sobre a conveniência de manter a prioridade no conflito.
Quem tentou fazer o balanço mais preciso dos custos, um grupo da Universidade Brown (EUA), chegou a US$ 4 trilhões nas guerras do 11 de Setembro, incluindo aí a invasão do Iraque, que de todo modo nunca teve nada a ver com a Al Qaeda.
Assim, não é casual a desconfiança de todo analista paquistanês sobre o "timing" da operação americana que matou Osama bin Laden, o pai do 11 de Setembro, em seu país no dia 1º de maio.
Com ou sem teorias conspiratórias, o governo de Barack Obama pôde completar seu movimento de desembarque da política militarista de George W. Bush.
Se você visita o bairro de Sadr City, em Bagdá, entende que a diminuição relativa da violência no Iraque tem mais a ver com ordens das milícias xiitas do que com o aumento temporário de tropas.
Isso importa pouco: a retirada foi anunciada, e os talvez 20 mil soldados que ficarão depois de dezembro serão chamados de "força de auxílio" ou algo assim.
O mesmo ocorreu no Afeganistão após a morte de Bin Laden. Obama decidiu acelerar a retirada dos 100 mil soldados, que deverão sair até 2014 -com uma força "auxiliar" encastelada em bases.
"O Taleban poderá cantar vitória", diz o analista afegão Hanoor Mir. Em uma mensagem por e-mail enviada à Folha, o Taleban afirma que "a guerra foi ganha" e que "não aceitarão bases americanas".
Mas para o público ocidental cansado, o que interessa é a noção de que "o terror foi derrotado" que a morte de Bin Laden gerou -e, de fato, os EUA não sofreram ataques grandes de 2001 até hoje, noção frágil, naturalmente.
Ficam no caminho os 225 mil mortos, entre civis e combatentes, apontados no mesmo estudo da Brown. Ou os 8 milhões de refugiados.
E um manancial de problemas. No Iraque e no Afeganistão, há dúvidas sérias sobre quem ficará no poder.
No primeiro caso, o premiê Nuri al Maliki está perdendo sustentação política. No segundo, o presidente Hamid Karzai é hoje refém de si próprio, fechado em seu palácio, sem apoio e vendo um Taleban crescentemente forte.
E há o Paquistão instável. E também toda a nova realidade geopolítica com a ascensão da China, a ameaça do Irã e outros fatores.
Esse é o legado daquilo que talvez seja chamado de "Guerra dos Dez Anos".
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