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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Década de guerra deixa legado turbulento


Em uma semana, feixes de luz irão recriar nos céus de Nova York dois espectros para finalizar as celebrações em memória da queda das Torres Gêmeas.
Será o fim simbólico também da década de guerra que sucedeu os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, ainda que, na prática, o conflito já tenha tido seu fim decretado -e, paradoxalmente, muito sangue ainda vá ser derramado por sua conta.
Explica-se. A crise econômica, iniciada em 2008 e com desenvolvimentos graves em curso, colocou o Ocidente todo em xeque sobre a conveniência de manter a prioridade no conflito.
Quem tentou fazer o balanço mais preciso dos custos, um grupo da Universidade Brown (EUA), chegou a US$ 4 trilhões nas guerras do 11 de Setembro, incluindo aí a invasão do Iraque, que de todo modo nunca teve nada a ver com a Al Qaeda.
Assim, não é casual a desconfiança de todo analista paquistanês sobre o "timing" da operação americana que matou Osama bin Laden, o pai do 11 de Setembro, em seu país no dia 1º de maio.
Com ou sem teorias conspiratórias, o governo de Barack Obama pôde completar seu movimento de desembarque da política militarista de George W. Bush.
Se você visita o bairro de Sadr City, em Bagdá, entende que a diminuição relativa da violência no Iraque tem mais a ver com ordens das milícias xiitas do que com o aumento temporário de tropas.
Isso importa pouco: a retirada foi anunciada, e os talvez 20 mil soldados que ficarão depois de dezembro serão chamados de "força de auxílio" ou algo assim.
O mesmo ocorreu no Afeganistão após a morte de Bin Laden. Obama decidiu acelerar a retirada dos 100 mil soldados, que deverão sair até 2014 -com uma força "auxiliar" encastelada em bases.
"O Taleban poderá cantar vitória", diz o analista afegão Hanoor Mir. Em uma mensagem por e-mail enviada à Folha, o Taleban afirma que "a guerra foi ganha" e que "não aceitarão bases americanas".
Mas para o público ocidental cansado, o que interessa é a noção de que "o terror foi derrotado" que a morte de Bin Laden gerou -e, de fato, os EUA não sofreram ataques grandes de 2001 até hoje, noção frágil, naturalmente.
Ficam no caminho os 225 mil mortos, entre civis e combatentes, apontados no mesmo estudo da Brown. Ou os 8 milhões de refugiados.
E um manancial de problemas. No Iraque e no Afeganistão, há dúvidas sérias sobre quem ficará no poder.
No primeiro caso, o premiê Nuri al Maliki está perdendo sustentação política. No segundo, o presidente Hamid Karzai é hoje refém de si próprio, fechado em seu palácio, sem apoio e vendo um Taleban crescentemente forte.
E há o Paquistão instável. E também toda a nova realidade geopolítica com a ascensão da China, a ameaça do Irã e outros fatores.
Esse é o legado daquilo que talvez seja chamado de "Guerra dos Dez Anos".

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