Claudia Leitte aprendeu tudo. Em seu ultraproduzido show nesse primeiro dia de Rock in Rio, a cantora fez o que estava ao seu alcance para não ficar para trás (ou por baixo) na corrida das divas pop populares, em que competem Rihanna, Shakira e a conterrânea (e matriz) de Leitte, Ivete Sangalo.
Abriu o show surgindo do ar, de uma imensa bolha de luz, vestida em figurino também luminoso. Terminou a apresentação voando palco acima, içada por cabos de aço. Pirotecnia de primeira linha --tudo tão lúdico quanto cafona, como convém às discípulas de Madonna.
Tantas coreografias devem ter custado a ela muitos meses de ensaio. E o número de bailarinos era tão grande que, por vezes, parecíamos estar assistindo a uma performance do Holiday on Ice.
Leitte disse todas as frases-clichê das cantoras de axé: "Eu quero ouvir vocês"; "É na palma da mão"; e, a mais constrangedora num festival "de rock", "Tira o pé do chão".
Seu carisma é programado, estudado, ensaiado como cada passo da coreorafia. As risadas, também. Mas até isso gera alguma simpatia --é legal que nossa indústria do entretenimento tenha produzido profissionais assim, tão... profissionais. Precisos para esse tamanho de evento, em que a música é outra coisa que não o banquinho, a voz, o violão.
No mais, usar o palco do Rock in Rio para cantar Zeca Baleiro ("Telegrama"), a fase mais cafona de Roberto Carlos ("Amor Perfeito") e várias de Carlinhos Brown (o homem mais humilhado no Rock in Rio 2001) é bem mais ousado do que fizeram, minutos antes dela, no mesmo palco, Titãs e Paralamas.
Diferentemente desses, Leitte cantou até músicas novas. Ela parece querer seguir adiante, construir mais alguma coisa nessa vida (e aqui não estamos falando de valor estético) --e não, como eles, viver comodamente do que já fez e está assimilado, na língua da plateia há 30 anos.
Claudia Leitte deu o melhor que podia. E, dentro de sua proposta, fez um show perfeito. No sábado da semana que vem, Ivete Sangalo vai ter que rebolar para não ficar abaixo da pupila no pódium das divas pop.
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