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sábado, 10 de setembro de 2011

Atração turística, gurus indianos são alvos de 'caça-charlatão'


O ativista Sanal Edamaruku é um "caça-gurus": dedica-se a encontrar respostas racionais a fenômenos aparentemente estranhos para desmascarar "charlatões que propagam fraudes na Índia".
A cada ano chegam ao país milhares de turistas ocidentais dispostos a buscar algum dos centros de meditação nos quais gurus, iogues e médiuns propõem soluções para o autoconhecimento e relaxamento, frequentemente com tarifas nada módicas.
A Índia, além deste fenômeno popularizado pelos "hippies", também é palco de futurologia, até ações mais graves, como os remédios preparados por curandeiros, ou até rituais com sacrifícios humanos.
Contra todos eles está Edamaruku, que é o chefe da Associação Racionalista da Índia, um grupo de cerca de 100 mil voluntários prontos para desmascarar charlatões que usam a credulidade popular para manter seu "prestígio espiritual".
"O problema na Índia é que o hinduísmo tem um forte componente ritual e seu sistema de crenças autoriza que você vista uma túnica laranja caso se considere santo, inclusive se for um criminoso", diz o "caça-guru", em seu escritório de Nova Déli.
AUTOPROCLAMADOS
Há, estima ele, cerca de 7.000 pessoas que dizem ser avatares ou reencarnações de deuses, e muitos deles circulam pelos povoados do país em busca de adeptos com os quais sustentar doutrinas que às vezes desafiam as recomendações científicas e médicas.
"Todos buscam sua cota de milagres e muita gente está disposta a crer que neste país acontecem coisas que foram inventadas", explica Edamaruku, rodeado de livros na sede do centro racionalista, onde trabalha com três funcionários "comprometidos com a causa".
Em suas perambulações, os gurus não titubeiam em recorrer a um catálogo interminável de "habilidades", como produzir cinzas, caminhar sobre carvão ardente, criar fogo com o poder da mente, transformar água em sangue ou levitar. Mas na realidade, todos esses "poderes" seriam truques.
O "caça-guru" adquiriu fama em 2008, quando desafiou um xamã na televisão a matá-lo com magia. Após horas com mantras, bonecos vudu e rituais com facas, o charlatão fracassou porque, segundo o próprio, o ativista "rezava para deuses secretos que o protegiam".
"Mas eu sou ateu!", retrucou o racionalista, que diz ter desmascarado cerca de 300 charlatões e já participou de centenas de programas de televisão, muitas vezes frente a frente com astrólogos e gurus de aparência extravagante.
CASOS PERIGOSOS
Os sacerdotes tântricos estão entre os mais perigosos no leque espiritual da Índia, visto que seu esoterismo inclui sacrifícios rituais que, segundo Edamaruku, incluem assassinatos de crianças.
Segundo o ativista, as autoridades --que não publicam os casos para "evitar alarme social"-- têm entre 40 e 60 arquivos de sequestros perpetrados por xamãs do tantra, uma corrente que acredita influir nas leis racionais mediante magia.
Outros gurus menos agressivos adquirem notoriedade como curandeiros e dizem poder curar a Aids ou o câncer, além de contarem com soluções para os casais inférteis.
A Associação Racionalista da Índia foi criada em 1950, concebida como um pequeno centro intelectual, mas foi a partir dos anos de 1980 que seus dirigentes passaram a sentir a necessidade de ampliar suas atividades para lutar contra a superstição.
Desde então, Edamaruku e seus colegas visitaram mais de mil povoados e organizaram cursos e seminários nos quais explicam os truques mais comuns dos charlatões, para que sejam os próprios aldeões a desmascará-los durante suas cerimônias.
A pobreza endêmica, o culto à figura do líder e a educação deficiente são alguns dos fatores que contribuem para a persistência das superstições, avalia o ativista, que denuncia ainda a conivência que o poder tem com gurus de todos os tipos.
"Os gurus têm influência e os políticos têm medo de lutar contra eles. É preciso coragem para acabar com o poder desta gente", explica Edamaruku.
Os racionalistas tiveram que lutar durante 35 anos para que o governo de Kerala (sul da Índia) reconhecesse que eram seus próprios funcionários --e não a divinidade-- que acendia luzes "sobrenaturais" em uma colina durante a peregrinação de Sabarimala.
"Chegavam em veículos 4x4 ao alto da colina e lá acendiam três vezes uns projetores intermitentes. Os peregrinos olhavam fascinados o que pensavam ser uma manifestação dos deuses", relembra o "caça-guru".

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