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domingo, 4 de dezembro de 2011

A crise do capitalismo e algumas conseqüências políticas


Roberto Amaral é vice-presidente Nacional do PSB



A segunda década do terceiro milênio  apresenta-se
 extraordinariamente desafiadora, quando paira
sobre todo o mundo o espectro da crise do
capitalismo, por ele mesmo engendrada. Crise
 econômica que cedo, a partir da Europa, constrói
desdobramentos políticas e institucionais, de
 início desestabilizando os países da Comunidade
 Econômica Européia (nomeadamente Portugal,
Grécia, Itália e Espanha), chegando a mesmo
a ameaçar a sobrevivência do euro e pôr em xeque
 o Tratado de Maastrich.
A crise ultrapassa o território de seu epicentro
norte-americano para contaminar todo o mundo.
Para os que gostam de consultar a História, ela
relembra  as turbulências desencadeadas pelo 
crash da Bolsa de Nova Iorque (1929),  que se
resolveu na II Guerra Mundial com a consolidação
da hegemonia dos EUA, anunciada desde o início do
século. Consabidamente, a história não se repete, a
não ser como tragédia e farsa, mas podemos afirmar
que vivemos já uma  ‘III Guerra Mundial’. Não
se realizou o temido conflito OcidentexOriente,
URSSxEstados Unidos, muito menos nossa civilização
e o planeta foram destruídos pela hecatombe atômica.
Diferentemente da tragédia de 1939-1945, a Grande
 Guerra de nossos dias é uma coleção de conflitos
difusos operados mediante  a associação militar
intervencionista dos grandes  países capitalistas,
muitas vezes mascarada pela OTAN, como na antiga
 Iugoslávia, nos Bálcãs, no Afeganistão, no Iraque e,
 mais recentemente, pelos raids franco-ingleses sobre
a Líbia. Esse militarismo agressivo se apresenta
 travestido dos mais palatáveis rótulos, como
‘intervenção humanitária’, luta contra o terrorismo,
combate a armas de destruição em massa ou
‘defesa’ de regimes democráticos contestados
domesticamente. Na verdade, o objeto é a destruição
 de adversários e a tomada de territórios e
riquezas estratégicos, fundamentais para a
geopolítica do imperialismo, que guerreia
preventivamente, à ausência de desafio militar.
 São atingidas as populações civis e bens de caráter
civil, as estruturas dos países são arrasadas para
serem reconstruídas com os recursos dos próprios vencidos.
Mundo em crise, esquerda em crise.
O dramático, em face da crise estrutural do
capitalismo (e não apenas crise do neoliberalismo
ou da hiperacumulação financeira especulativa),
 é a apatia da esquerda socialista. Ainda com
 dificuldades para compreender a débâcle do
 ‘socialismo real’, não foi capaz de fugir da
 armadilha ideológica da direita,  vitoriosa quando
 ironicamente desabam as pilastras do capitalismo
 -- a introjeção da falácia do fim da história--,
e construir uma alternativa compreensível pelas
 grandes massas e exequível no horizonte das atuais
 gerações. Ao contrário, em alguns casos quedou-se
 na inação, para, em outros muitos, bater em retirada,
como demonstra o destino no qual se imolaram os
antigos grandes partidos comunistas, tanto do Leste,
onde aparentemente estavam no poder, quanto do Ocidente.
Diante dos episódios da ‘Primavera árabe’ e do
 ‘Ocupem Wall Street’, que se espalhou por todo
 os EUA e o mundo,  a esquerda quedou-se perplexa,
presa por um verdadeiro círculo de giz caucasiano,
composto pelo que Zizek descreve como resultado do
 fim do ‘socialismo real’: “o saudosismo da velha
ordem, o populismo nacionalista de direita e uma paranóia
 anticomunista renovada e diferida”.
Nada obstante o estrondoso fracasso do capitalismo
– fracasso econômico, político e moral-- grande parte
 da imprensa internacional – o caso brasileiro é
escandaloso — ainda se move segundo as regras da
 falecida Guerra Fria, gerando o discurso único que
parece provocar rachaduras na formação ideológica
 dos doutrinadores da esquerda, assustada e pessimista
quando sua essência é crer e realizar utopias. O fato
objetivo, seja qual for o fenômeno detonador, é que o
sistema não conhece oposição.
Nunca será demais lembrar a que frangalhos foram
reduzidas organizações de massa como o Partido
Comunista Francês e, principalmente,  o outrora tão
 promissor  Partido Comunista Italiano, ‘o maior partido
 de massas do Ocidente’, inspiração da frustrada
promessa do ‘eurocomunismo’.  Nas pegadas
dos comunistas ortodoxos caminharam os partidos
socialistas e socialdemocratas como o Partido
Socialista Francês, o Partido Socialista Português,
e o Partido Socialista Operário Espanhol, apenas
poucos mas significativos exemplos de renúncia a
objetivos revolucionários. Na verdade, esses partidos
  transitaram da esquerda para o conservadorismo e,
em alguns casos, terminaram no campo da direita.
 Lembremos apenas o triste destino do Partido Trabalhista
inglês.
Mas esses exemplos não encerram a tragédia toda,
pois são exatamente os partidos de centro-esquerda
 que estão operando a política suja do neoliberalismo,
 impondo a suas populações o extenso catecismo
das medidas recessivas de sempre, a redução dos
direitos trabalhistas e previdenciários, a crescente
desigualdade de renda e cortes nos programas sociais,
 conquistas alcançadas ao custo de longas lutas sociais
que compreenderam, de par com a extrema exploração
 do braço humano,  a repressão, o cárcere e o assassinato
 de milhões de trabalhadores em todo o mundo.
Nem Margaret Thatcher faria melhor.
Mesmo para os governos de esquerda, limitados pelas
suas circunstâncias, a missão histórica se reduz à correção
 de falhas do sistema, jamais de questioná-lo, muito
 menos de construir uma alternativa. Ataca-se a forma,
 ignora-se a essência. O confronto tão pouco é
exercido pelos partidos de esquerda, os quais,
assim, renunciam ao seu fim político. Invertendo
a ordem clássica, e cumprindo a necessidade de
defender suas administrações, terminam no centro
do governo e  à direita do movimento social.
Na ausência dos partidos, agem as massas.

As praças
"Os jovens estão tomando as ruas, em parte,
 porque não acreditam mais nas urnas”.
Primeiro foi o Egito, com a transformação da
 Praça Tahir numa ágora democrática onde o
povo se reuniu – aparentemente sem nenhuma
convocação de ordem partidária – para exigir
o fim de uma velha ditadura por muitos anos
 sustentada pelos EUA e Israel como antídoto
a qualquer projeto, democrático ou não,  que
 pudesse lembrar a história de Gamal Abdel Nasser.
Formados basicamente por jovens da
classe-média, outros movimentos populares
 explodiram na Jordânia, na Tunísia
(onde Sarkozy não pôde manter Ben Ali no poder)
 e no Iêmen. Todos se batem contra ditaduras
 ou Estados autoritários, reclamando direitos
sociais, econômicos e políticos.
Na Síria o ditador ainda resiste
(escrevo em novembro) com o povo ocupando
 as ruas, e na Líbia, com o apoio decisivo dos
bombardeios da OTAN, foi desmontado o
 regime de Kadafi, arrasado o país e
finalmente, com a preciosa ajuda da
aviação francesa, assassinado o ditador,
com requintes de bestialidade ocidental.
Ainda é cedo para prever a profundidade
 das reformas, pois a deposição do ditador
 é condição necessária mas não suficiente
para assegurar o avanço político, se as
reformas estruturais não são levadas a cabo.
 Esta, porém, é a tendência daqueles
movimentos os quais, embora mobilizando
 as massas, não foram galvanizados
por propostas e programas concretos.
A ausência de novas formações políticas,
 apontando para a nova organização social,
condena esses movimentos ao esvaziamento.
Na ausência da política o proscênio é
 ocupado ora por juntas militares,
ora por seitas fundamentalistas, às vezes
mesmo em conjunção, abrindo espaço para
 Estados teológicos e autocráticos.
O papel da ‘irmandade muçulmana’ no Egito
não deve ser considerado irrelevante.
Os movimentos de massas que se espalham
 como rastilho de pólvora, sejam os levantes
da ‘Primavera árabe’, por estudar, sejam os
protestos contra as medidas recessivas
impostas aos povos dos países devedores
 (Grécia, Espanha, Portugal, Itália) pelo
alcorão monetarista a serviço da banca
internacional, sejam já os protestos
anticapitalistas difusos (EUA, Inglaterra,
Alemanha, França, Japão, Filipinas,
Bósnia, Austrália,...), mais ou menos na
sequência do ‘Ocupe Wall Street’, são,
 aparentemente,  erupções espontâneas
 e voluntaristas, de uma forma ou de
outra sem a participação dos partidos
e dos políticos, postos à margem
como material inservível. Até aqui
sem bandeiras definidas, esses
movimentos parecem unificados por
 uma reação de fundo moral e ético que
 se manifesta no discurso contra as
desigualdades e o sistema financeiro
privado, para o qual pedem regulação.
Esses protestos chegam mesmo à
China (Hong Kong) e ali também mais
 claramente do que em qualquer outra parte,
sem a presença de organizações partidárias.
Se não há indicação da existência de
mecanismos políticos de convocação
 popular, convergem os primeiros
observadores a explicar as mobilizações
 de massa mediante o  papel, ainda
não seguramente medido, das
‘redes sociais’, as mesmas que
estariam sendo usadas com idêntico
sucesso nos chamamentos do ‘OcupeWall Street’.
A exclusão dos partidos é fenômeno 
derivado da renúncia destes à política
 e à contestação.
Talvez até por decorrência da orfandade
 político-ideológica, setores do
pensamento de esquerda abandonam
 a  resistência e a militância, abalados
pelo que Hegel chamava de ‘hipocondria
 do antipolítico’, caracterizada pelo
desalento e a depressão que
normalmente se seguem a uma grande
 derrota. Esta de agora é, ainda,  o
autodesmoronamento da URSS.
A angustia de uns leva à inação;
noutros setores transforma-se na
auto-entrega aos ditames ideológicos
 do discurso único e aos apelos
materiais do statu quo. As atuais
gerações vêem seus tempos se dissiparem,
e quando caminham na direção do horizonte
 esse parece se afastar, como uma maldição.
 Como o futuro transforma-se numa
quimera, resta viver o presente, a qualquer
 custo, a qualquer preço. Inclusive ao preço
da renúncia aos seus próprios valores.
Por isso mesmo praças ocupadas são uma
 resposta ao  agravamento das desigualdades
 impostas  pelo capitalismo em sua fase
monopolista, mas também iluminam o
desapreço dos jovens ao fazer da política,
à gelatina ideológica dos partidos e aos
políticos que não foram capazes de
resolver seus problemas. O desalento,
bem servido pela grande imprensa, 
leva ao desencanto com os regimes
 democráticos, pois as grandes massas
 não mais vêem a democracia
 representativa e o processo eleitoral
como alternativas.  E os Murdoch,
e os Civita sabem disso, como também
sabem quais são as conseqüências
inevitáveis da desmoralização da política.
Esta, aliás, é a razão de tanto investirem neste projeto.
Diante da crise, e da incapacidade de
os partidos a enfrentarem, construir e liderar
 a defesa de alternativas, as novas gerações,
 que crescem sob a crise do capitalismo, se sentem
desamparadas. Mas se não encontram o apoio
das organizações de esquerda, nem delas
colhem um projeto político,  também e
felizmente não se deixam dominar pela
 angústia e pelo niilismo; avançam como
 podem e sabem: marcham, ocupam as
ruas, protestam. Mas a rebeldia necessária
não é tudo. É evidente que o
“Ocupe Wall Street” é um extraordinário
avanço qualitativo diante de Woodstock,
mas pode cair no vazio se o protesto não
se transformar em projeto revolucionário,
e isto depende de condução política, que
depende de organização política, o que, nas
 circunstâncias, é um objetivo ainda muito
difícil de operar.
E assim e por tudo isso, a crise do capitalismo
 se desenvolve sem sinais de mudanças, quer
na economia, quer na política, nada obstante
a estagnação e o desemprego.
A experiência na America Latina
Já antes da crise de 2008, nosso Continente,
na sequência do desmantelamento das ditaduras,
conhecia dois fenômenos notáveis e
contemporâneos, a saber: a) a emergência
dos movimentos populares (trazendo em
seu bojo a afirmação da democracia eleitoral
 e a eleição de governos populares); e b) a
recuperação econômica, à margem das regras
do Consenso de Washington.
A resistência social.
Embora a derrubada das ditaduras militares
e dos governos autoritários, abrindo caminho
para a retomada da democracia, tenha sido
levada a cabo por movimentos de massa
com destacada presença das esquerdas
locais -- o papel de liderança dos partidos de
 esquerda e socialistas no processo político
 e político-eleitoral constitui exceção. Em
 quase toda a América do Sul a ascensão das
massas e a conquista eleitoral se fizeram
sob o comando de grandes lideranças
populares, ora sem vinculações partidárias,
ora elas próprias maiores que seus partidos,
 o que pode anunciar percalços à continuidade
 da opção democrático-popular, quando os
avanços políticos e os processos sociais ficam a
depender, não de uma organização partidária,
 não de um programa para o qual se
conquistou a adesão da sociedade, mas
dependem pura e exclusivamente do
desempenho de um líder. Ilustro esta afirmação
 lembrando a trajetória de Hugo Chávez.
Por outro lado, a tragédia biológica, com a
qual nunca contam os lideres carismáticos, pode
dar fim àqueles movimentos que não conseguirem
 se institucionalizar e construir novas lideranças.
 A ausência dos partidos é igualmente a característica
 dos fortes movimentos estudantis do Chile  que
começam a se reproduzir na Colômbia que, aliás,
acaba de eleger um ex-guerrilheiro prefeito de
 Bogotá. Na pátria de Allende há mesmo, por
parte das lideranças estudantis com apoio na
opinião pública, um ostensivo desapreço pelos
partidos, independentemente de coloração
ideológica e de suas respectivas histórias, pois
 todos são igualmente responsabilizados pelas
 mazelas denunciadas. Derrotada nas urnas pela
 direita deSebastian Piñera, a Concertação é
chamada pelos estudantes  a explicar as reformas
que deixou de fazer.
A democracia se consolida e avança na Argentina
(com os governos populares dos Kirchner a
caminho do terceiro mandato), no Uruguai
(com a Frente Ampla), no Paraguai com a eleição
 de Lugo, na Bolívia com Evo Morales, no
Equador com Rafael Correia, no Peru com
Humala, na Venezuela com as sucessivas
eleições de Hugo Chávez e na Nicarágua
com Ortega. No Brasil, o governo popular de
 centro-esquerda alcança seu terceiro mandato
 consecutivo.
Como garantir a continuidade desse processo
 progressista naqueles países ricos de lideranças
 personalistas mas pobres na organização política
 das grandes massas?
A resistência ao Consenso de Washington.
Da Europa distingue-se a América Latina
pela majoritária resistência, em face da crise
econômica internacional,  às prescrições do
 ‘Consenso de Washington’, que tanto encantou e
ainda hoje encanta nossos economistas e a
 imprensa colonizada. Pois foi reativando o
papel indutor do Estado, promovendo a abertura
 do crédito (impensável sem os bancos públicos,
 no caso brasileiro) e estimulando o
consumo, que nossos países responderam aos
abalos internacionais, e ao cabo de três anos o
Continente apresenta indicadores de crescimento
 do PIB, em contraste com a recessão que se
 instalou na Europa. Brasil e Argentina são dois
 exemplos da resistência vitoriosa ao
neoliberalismo, como Bolívia e Equador
podem ser os melhores exemplos de emergência
 dos movimentos de massa.
Brasil
1. O Brasil e a crise internacional
O exemplo brasileiro, na crise de 2008, foi
paradigmático com a corajosa decisão de
nosso governo de rejeitar a recessão e
investir no mercado interno, o que foi
 levado a cabo por Lula e tem
continuidade no Governo Dilma,
contaminada porém sua administração
 pelos receios de uma recidiva
inflacionária, donde seu comportamento
 cauteloso em face dos
desdobramentos insondáveis da crise
 internacional, os quais incluem a
expectativa de queda de nossas
exportações.  Daí, prometendo relaxar
 o mercado interno (facilitar o crédito
 e aumentar os investimentos públicos),
a reclamada política de contínua embora
 ainda lenta redução das taxas de juros,
 assegurando o hoje ameaçado
crescimento do pais.  Essa política,
porém,  ainda não se fez acompanhar
do controle do câmbio, fórmula para
 salvar a indústria nacional
 manufatureira em face da
concorrência do mercado internacional,
 tornada ainda mais difícil com a
artificial desvalorização do dólar e o
quase dumping dos produtos chineses.
Os efeitos da crise, porém, já chegaram
ao Brasil e seu primeiro indicador é a
desaceleração da atividade econômica,
com a queda da produção industrial
e do consumo de bens de capital.
As incertezas do mercado internacional
 têm levado à redução dos investimentos
privados, alimentando o círculo vicioso.
 As comodites, hoje a principal base de
 nossas exportações,  continuarão
relevantes, porém em patamar de preço
e fluxo menores, sem nenhuma
expectativa de crescimento das
exportações de nossos manufaturados.
  Nesse cenário de refluxo da economia
internacional, os produtos agrícolas
 tornar-se-ão mais atrativos que os
 minerais e poderemos ser beneficiados
 pela provável carência de proteínas
pela China. Donde a possibilidade de
 aumentarmos nossas exportações de
 carne, frango... Finalmente, e é com esta
 perspectiva que devemos contar, a
concorrência será cada vez mais
acirrada, e por vezes desleal, em todos
 os mercados. Esta é a conseqüência
 do encontro da retração econômica
européia com a lenta recuperação dos
EUA, e as ameaças de desaceleração
do crescimento da China, com a evidente
queda de suas importações e a necessidade
 de aumentar as exportações.
Nossos estrategistas não devem contar com
 a garantia do crescimento, se não forem
tomadas, no curto prazo, medidas de
aquecimento, pois o quadro de hoje
é de queda rápida da taxa de investimento.
 Se nada for feito corremos o sério risco
de estagnação em 2012, preço que nos
 será cobrado pelos equívocos das
políticas de agressividade fiscal e
monetária dos primeiros meses deste ano.
São muitos os desafios, desde o
enfrentamento da dívida pública  ao
 chamado ‘custo Brasil’, que envolve
 as escandalosas deficiências de
 logística e infraestrutura. Temos
ainda problemas decorrentes da
 redução da taxa de fecundidade
associada à inversão da composição
 etária, com graves repercussões sobre
 as políticas públicas.
Sem falar na crise do Estado, a crise de
 sua legitimidade e sua crassa
ineficiência agravada pelo ataque
neoliberal, enfraquecendo-o em
seu papel de indutor da economia e
 desaparelhando-o  para o enfrentamento
 das grandes corporações transnacionais,
 que já respondem por 50% do PIB mundial.
2. O Brasil e a crise dos Partidos
Relativamente aos partidos, o Brasil não
constitui exceção digna de nota. Nada
obstante possuirmos, em face de nossos
 vizinhos, e certamente com a mencionada
 exceção do Chile e da uruguaia
Frente Ampla, um dos mais consolidados
 sistema de partidos (consolidado não
 quer dizer nem eficiente nem legítimo),
é sabido que a vitória popular nas eleições
 de 2002 foi
 catapultada pela liderança do
 presidente Lula.  E foi essa liderança
que assegurou a sucessão com Dilma
Rousseff, em que pese  à longa história
 dos movimentos sociais brasileiros,
da acumulação de forças representada
pela história das forças democráticas,
socialistas e comunistas. Mas nossas
 vitórias, e a ‘necessidade de assegurar
a governabilidade’, ameaçada em 2005,
 cobraram das lideranças do governo a
construção de uma base
partidário-parlamentar  tão ampla
(com evidente reflexo na composição
do governo), que, garantindo a
 reclamada estabilidade, limitou
sensivelmente a capacidade de
promover mudanças estruturais.
Mas só uma base parlamentar
assim heterogênea para ser tão
grande conseguiria dar
sustentação a um governo que
 em menos de dez meses tem
cinco de seus ministros,
sucessivamente demitidos pela
 imprensa.
Às esquerdas (assim mesmo no
plural), faltou (e falta)  reflexão.
 Sem instrumentos para compreender
 a realidade na qual eram chamados
a atuar, nossos partidos foram
consumidos pela acrítica ocupação
 do aparelho do Estado, com a
renúncia a qualquer
transformação de qualidade.
 Recebemos um Estado desmantelado
 pelo neoliberalismo, governamos
com ele, e, preservando-o tal qual o
recebemos, assim vamos entregá-lo
a nossos sucessores. Um Estado sem
 vocação para a defesa do
 bem-comum, imune à emergência
dos pobres, desafeito à transparência
 e ao aprofundamento da democracia.
 Um Estado desaparelhado para o fazer,
 principalmente quando este fazer diz
 respeito aos interesses das camadas
 mais pobres da população. Um Estado
 desaparelhado para a defesa de nosso
 território. Um Estado ainda garroteado
pelo sistema financeiro privado e
amarrado por uma burocracia autônoma
 descompromissada com os interesses
nacionais. Um Estado a serviço da
 classe dominante que ignora os projetos
estratégicos nacionais, impávido diante
dos reclamos sociais e do pleito por 
aquelas reformas estruturais, que,
perfurando a epiderme, atinjam
qualitativamente o regime. Um Estado
 servido por um Legislativo que não legisla
e um Judiciário que não julga, ambos
 acusados de severos desvios éticos.
Ao invés de marcarmos nossas diferenças,
 terminamos sem cor no caleidoscópio 
ideológico da ‘base’ do governo.
Há pelo menos uma conseqüência a
identificar: o esgarçamento doutrinário
de nossos partidos, construindo o
desapreço popular. As linhas programáticas
 revelam-se condicionadas pelo
 pragmatismo da realpolitik, que
põe esquerda e direita no mesmo
campo de disputa eleitoral, no governo
 e na sociedade, com armas e
ainda éticas distintas, embora
administradores conservadores e de
 esquerda no mesmo governo sejam
acusados dos mesmos equívocos.
Para a opinião pública, os partidos
e suas lideranças terminam
dramaticamente confundidos.
Essa construção esquizofrênica é
 responsável pelo agravamento
da crise da representação, que,
desvinculando da vontade da
soberania popular o exercício
do mandato, abre caminho para
a crise funcional e ética do Poder
 Legislativo, na qual se alimenta
a direita impressa.
Sem compreender a real crise do
 sistema político-eleitoral, e,
com ela, num círculo vicioso,
o agravamento da crise dos partidos,
 a esquerda, no Brasil,
majoritariamente, renunciou à
formulação de uma inadiável
reforma política, para consumir-se
 na defesa de uma reforma
eleitoral que ao fim e ao cabo
prometia simplesmente reduzir
 os espaços da democracia, e abrir
 caminho para a hegemonia dos
grandes partidos, o primeiro passo
 do  acalentado sonho das elites
brasileiras: o bipartidarismo reacionário.
3. O Brasil e os movimentos sociais
Durante a ditadura militar e em
oposição a ela, o Brasil assistiu a
um tão amplo quanto inusitado
processo de mobilização de massas,
 seja pelo ressurgimento do
movimento sindical, seja pela luta
 pela anistia, seja pela defesa dos
 direitos humanos ou pelas eleições
 diretas para presidente.
É verdade, porém, que o
extraordinário movimento das
 ‘diretas-já’ desembarcou no
colégio eleitoral da ditadura, que
elegeu Tancredo e levou Sarney à
Presidência. Construímos a liberdade
 sindical mas nossas Centrais foram
dominadas pelo burocratismo de
esquerda. Por fim, só recentemente
 conseguimos instalar a Comissão
da Verdade, para oficialmente
registrar os crimes da ditadura,
cujos operadores continuam
 anistiados e impunes.
A inserção da esquerda com
tarefas de mando na administração
 do Estado, quando mais carecia
de sustentação popular,  terminou
 provocando a desmobilização de
grande parte desses movimentos,
cuja exceção digna de nota é o
MST, sistemática e compulsivamente
 “criminalizado” pelos meios de
comunicação, e por um Poder
Judiciário que jamais renunciou ao
 seu papel reacionário na luta de
 classes.
Por outro lado, os partidos de
esquerda não tiveram competência
para compreender e encorajar esses
 movimentos, cuja contribuição é
fundamental para o permanente
aprofundamento da ordem
democrática e para a garantia e
 ampliação de políticas públicas
 em prol da maioria da população.
Mantida  sua autonomia em
relação aos movimentos sociais,
quaisquer que sejam seus
objetivos, a tarefa fundamental
da esquerda é abrir e manter
canais de relações e cooperação
 com a sociedade, de modo que
 suas reivindicações e propostas
sejam incorporadas pelas estratégias
 partidárias. Nossa experiência,
 porém, não é estimulante, pois
 contribuiu (talvez inevitavelmente)
para o refluxo do movimento sindical
 e do movimento social em
termos gerais, um e outros
muitas vezes utilizados como correia
de transmissão dos interesses dos partidos.
A crise da socialdemocracia
Repetindo histórias passadas, a crise não
tem aberto espaço para as conquistas
socialistas. Ao contrário, o panorama
contemplado é de desmoralização da
socialdemocracia na Grécia (por ela
 governada no auge da crise por
intermédio do PSOK, partido socialista;
 impotente diante do desastre, foi
substituído por um governo de
 ‘união nacional’ formado
 basicamente pela ultra-direita, e ainda
 deverá perder as próximas eleições
para o direitista Mariano Rajoy),
 na Espanha (governada por um PSOE
massacrado nas eleições nas eleições
de novembro)e em Portugal (governado
 até há pouco pelo Partido Socialista,
e por isso mesmo derrotado pela
direita na última eleição). Na Itália,
a esquerda orgânica se
autodesconstituiu; na Inglaterra os
 partidos Trabalhista e Conservador
desempenham o mesmo papel.
Na Alemanha o socialdemocrata
SPD não se diferencia da CDU
(democracia cristã, de Merkel).
Em nosso campo apenas o Die linke
(A esquerda), uma dissidência do SPD,
 responsável por algo como 7/8% do eleitorado.
O fracasso da esquerda européia 
pode deitar raízes nas consequências
 até psicológicas da crise do ‘socialismo real’
 que terminou derruindo organizações
antes portentosas como os já referidos
PCI e  PCF, e abalando o movimento
socialista em todo o mundo. Mas, passado
 o pesadelo -- já estão longe a simbólica
 queda do ‘Muro de Berlim’ e a capitulação
da URSS ---, e diante da crise do
capitalismo, não há como explicar o refluxo
 das ideias e das ações da esquerda em
 todo o mundo. O fato objetivo é que
essa esquerda, mesmo em face da crise,
tem, renunciado à crítica ao capitalismo,
 à defesa das teses do socialismo, ainda
que fosse de um socialismo revisitado, e
 ao dever histórico de construção de um
programa alternativo, reclamado pelas
grandes massas, já nas ruas,
independentemente do seu chamamento.
Relembremos Lênin: jamais haverá uma 
crise final do capitalismo, ao menos que
 haja uma alternativa.
Desfeita a fantasia do ‘socialismo’ real,
 não nos foi dado reconstruir nossas
teses, e mesmo a denúncia do capitalismo,
malgrado sua escandalosa disfunção,
 refluiu. Daí o niilismo de uns, o pessimismo
 que justifica a inação; de outra parte
 a adesão às teses do neoliberalismo e a
 filiação à socialdemocracia, a qual,
todavia, transitou do centro para a
direita. Confundem-se pragmatismo e
renúncia, que procura justificativa no
discurso de que a ‘revolução acabou’,
com o reconhecimento  da vitória final 
do mercado, com a revisão do conceito
de Estado e mesmo de soberania nacional.
 A desestruturação dos partidos e o
enfraquecimento dos movimentos de massas
 seriam o passo seguinte e inevitável.
Esta questão se torna mais grave, agônica
 e aguda naqueles países nos quais partidos
 de esquerda assumiram governos. Neles,
de um lado não podem realizar seus
programas, porque não promoveram
 qualquer revolução, restando-lhes como
 alternativa de governabilidade, firmar
um pacto com a grande burguesia. 
O desafio é alcançar grandes
desempenhos no jogo capitalista a
saber, mostrar que a esquerda pode
administrar tão bem, ou melhor, que a
direita, ainda que para essa avaliação
tenham que ser postas de lado questões
 de qualidade.
Ponto final
O futuro de nossos países depende
 exclusivamente de nossa política, a
qual, contrariando a ladainha dos
 economistas mediáticos, depende
da continuidade do Estado indutor,
 da abertura do crédito (alcançando
principalmente o consumo popular),
dos investimentos públicos, do
aumento da produção industrial, da
regular queda do juros e da
desvalorização do câmbio.
E do esforço para aumentar e
diversificar nossas exportações,
dando-se atenção primordial para o
desenvolvimento da America do Sul,
do qual nosso país deve ter a
inteligência de ser um agente.
Toda crise – e os grandes abalos 
eclodem a intervalos variáveis-
- tem sua história própria e cada 
uma gera suas próprias conseqüências
O fenômeno comum é a gestação
 de um novo mundo, com novas
 relações sociais e econômicas e
uma nova geopolítica. Esse novo
 mundo, cujos contornos não 
sabemos prever, espicaçado por
inovações tecnológicas e
alterações comportamentais,
oferecerá aos seus contemporâneos
a possibilidade de escolha.
Enfim, de fazer  História.
Tudo depende do que nossos
povos decidam fazer da política.
Em sua conhecidíssima réplica a
Feuerbach, Karl Marx lembrava
que o fundamental não era mais
 explicar o mundo, mas
transformá-lo. Agora, é preciso
dizer que, para mudar, é necessário
 conhecer. Conhecer não mais para
continuar explicando, mas para
intervir, alterando o sentido dos
 acontecimentos e buscando a
construção de uma nova ordem
política e de uma ordem econômica
voltadas para os interesses da maioria.
Conhecer de todas as formas, a
 partir da reflexão, por sem dúvida,
mas conhecer também mediante a
participação, a organização, o
ativismo, a militância. Conhecer para
transformar. Os jovens que ocupam
Wall Street estão realizando uma
profunda reflexão sobre o sistema
econômico de seu país e, ao mesmo
 tempo, oferecendo uma lição   de
práxis ao resto da humanidade.
Quando a esquerda socialista parece
 haver ensarilhado as armas,
esses jovens estão a dizer que
 ‘mudar é possível’. Mudar para o quê
 ainda não sabem, mas já deram o
primeiro e essencial passo.
A análise ao significado prático dessa
 rebeldia é outra coisa. No momento
 registramos tão simplesmente o
 rompimento com a inação. As
pessoas aprendem com suas próprias
experiências. Em outras palavras:
queremos crer que a ação direta
começará a construir respostas às dúvidas.

* Roberto Amaral é cientista político,
 vice-presidente nacional do PSB,
 ex-ministro da Ciência e tecnlogia,
 ex-diretor-presidente da Alcântara Cyclone Space.



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