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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Menção à Roma Antiga mostra Dilma preocupada com traições


Professora da USP lembra que história política do império é marcada por revoltas violentas da "base aliada"










Foto: Roberto Stuckert Filho/PRAmpliar
Dilma disse que não concorda com a tese de que está comandando uma "faxina" no governo

Júlio César, um dos mais importantes governantes da Roma Antiga, era um reconhecido "faxineiro". As suas biografias falam de um homem implacável com a corrupção, de pulso firme e disposto a enfrentar quem fosse preciso para levar a cabo seu programa de reformas. No final, acabou morto pelos próprios aliados.
Ao usar a Roma Antiga como um exemplo do que seu governo não é, a presidenta Dilma Roussefftenta se afastar de exemplos como o de Júlio César, traído numa complexa trama de corredores palacianos. A explicação é da professora de História da Universidade de São Paulo (USP) e do Mackenzie, Maria Aparecida De Aquino.
Nesta quarta-feira, Dilma reclamou do uso do termo "faxina" para falar das demissões que tem feito. "Não se demite nem se faz escala de demissão, nem sequer demissão todos os dias. Isso não é de fato Roma Antiga. Tanto a forma como colocam a política do meu governo contra malfeitos chamando-a de faxina, eu não concordo com isso, acho que isso é extremamente inadequado", afirmou.
Para a historiadora, a frase é cabível. “Embora não se use este termo 'faxina' em relação a Roma Antiga, há episódios extremos em que se chegou a derrubar instituições inteiras aos quais ela pode estar se referindo. Nestes casos, foram tomadas medidas muito mais extremas”, diz Maria Aparecida.
 Ela pondera que é difícil precisar a que momento da Roma Antiga Dilma se refere: com uma história de centenas de anos, Roma passou por impérios, repúblicas e se expandiu para boa parte do território da Europa ocidental e norte da África, com dezenas de governantes, demissões de subalternos e revoltas da "base aliada". O livro "A Vida dos Doze Césares", de Suetônio, é uma boa introdução aos modos como os responsáveis pela administração do império tratavam e eram tratados por seus aliados. A traição era a moeda corrente, por exemplo. Em "Julio César", peça de William Shakespeare, o drama pessoal do líder romano fica ainda mais latente.
“É o caso, por exemplo, da conhecida frase de César, ‘Até tú Brutus’, demonstrando que confiava naquelas pessoas e não esperava tal comportamento. A presidenta, até por sua história marcada pela luta, é conhecida como sendo uma pessoa forte, talhada, portanto, de quem não se deve esperar fragilidade a ponto de se sentir traída nem de trair, mas, pelo contrário, uma postura de normalidade frente a casos de adequação que são previsíveis”, explica. Diferente de Roma, em Brasília os problemas não são resolvidos com facas.
A professora lembra de outro presidente brasileiro que falava em faxina, Jânio Quadros, que tinha uma campanha com o slogan “varre, varre vassourinha, varre a corrupção”. “Acredito que ela tem certa razão ao reclamar do termo faxina, que é considerado marqueteiro e remete a uma reforma truculenta, como se houvesse muita sujeira, quando, na verdade, a corrupção é algo que a sociedade brasileira e o mundo estão acostumados a assistir e precisa ser combatido rotineiramente".

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