BRASÍLIA - Ao final do recesso parlamentar não se colhem sinais nos congressistas de ânimo real para a instalação de uma CPI dos Transportes, contra a qual a oposição se mobiliza, dando ao processo político desenho contraditório. E é justamente o fato de ter origem na insatisfação da base aliada que a torna improvável.
A aprovação ostensiva pela sociedade da faxina promovida na área dos transportes, constatada em pesquisas e nas manifestações de formadores de opinião, mantém o governo blindado para retaliações que tentem ir além da sabotagem em plenário ou de tiros isolados, como os que o PR tem desferido contra o casal de ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).
Relatos de lideranças da base do governo indicam que o segundo semestre não poupará a presidente Dilma Rousseff, no entanto, do risco de revezes no Legislativo, onde a revolta do PR se junta à do PMDB, que aguarda cada vez mais irritado a nomeação de 48 indicados para cargos no segundo escalão, entre outras reivindicações.
Frustrados pelo silêncio do governo no recesso, alguns já falam em adotar a chamada "obstrução branca", que se materializa pela operação-tartaruga na discussão de matérias relevantes para o governo, no apoio seletivo a requerimentos da oposição e na negativa de quórum em plenário.
No limite, uma retaliação de peso, como definiu um líder pemedebista, que seria a derrubada do veto do ex-presidente Lula à emenda Ibsen, que mudou a regra de partilha dos royalties do petróleo impondo perdas aos Estados produtores.
Quero mais. No embalo do apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à faxina promovida pela presidente Dilma Rousseff nos Transportes, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) forma um grupo de proteção ao governo contra retaliações do PR. Segundo o senador, 15 parlamentares já aderiram ao movimento, alguns, inclusive, signatários da lista de criação da CPI dos Transportes - como Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Taques (PDT-MT) e Ana Amélia (PP-RS). O grupo defenderá a ação contra a corrupção e pedirá mais: a ampliação da faxina a outros órgãos. Cristovam, que assinou pedido de CPI contra Palocci, condena uma agora nos Transportes.
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