Perfil de acusados indica que responsáveis por saques e depredação na Inglaterra não são apenas jovens desempregados de baixa renda
Uma menina de 11 anos está entre as centenas de indiciados pelos distúrbios que atingiram a Inglaterra nos últimos dias. A menina - cujo nome não foi divulgado - foi acusada de depredação e tentativa de depredação na cidade de Nottingham, norte da Inglaterra. Ela se junta a um menino também de 11 anos, acusado de roubar um cesto de lixo em uma loja saqueada no bairro de Romford, em Londres, na lista de 500 indiciados e 1,4 mil presos pelo quebra-quebra que se espalhou pela Inglaterra.
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A idade dos dois chocou o Reino Unido, e, à medida que os perfis dos responsáveis pelos ataques começa a surgir, outros fatores começam a surpreender o país. O comparecimento dos suspeitos a tribunais vem mostrando que os responsáveis pelos saques e pela depredação não foram somente adolescentes desempregados de baixa renda sem valores e sem perspectivas de futuro, como muitos se apressaram a classificar.
Um dos envolvidos nos distúrbios a ser acusado formalmente, por exemplo, foi o professor-assistente de primário Alexis Bailey, de 31 anos, preso em uma loja saqueada de Croydon, no sul de Londres, na noite da segunda-feira.
Segundo o especialista em assuntos legais da BBC Clive Coleman, a maioria dos indiciados pelos tribunais britânicos com acusações relacionadas aos distúrbios é de homens na faixa de 20 poucos anos.
Mas é nas profissões ou ocupações de alguns dos envolvidos que está a surpresa: "Entre os acusados na terça-feira havia um designer gráfico, estudantes universitários e de pós-graduação e um homem que havia recém se alistado no Exército", diz Coleman.
Segundo ele, muitos dos indiciados alegaram nos tribunais que são pessoas que levavam uma vida tranquila e têm um bom caráter, mas que simplesmente caíram na tentação de cometer um crime no calor do momento. O advogado de um dos acusados reconheceu que seu cliente cometeu um delito, mas alegou que o fato aconteceu em "um momento de loucura".
Perplexidade
Políticos e acadêmicos reagiram com perplexidade aos distúrbios dos últimos dias. Uma cidade aparentemente tranquila e relativamente segura se incendiou de repente sem que estivesse claro quem estava por trás disso e muito menos por que razão faziam aquilo.
Mais de 1,4 mil pessoas já foram presas em todo o país nos últimos dias, com mais de 500 indiciamentos. Os acusados estão sujeitos a penas de prisão de até seis meses.
Sem controle
Para John Pitts, professor de direito da Universidade de Bedfordshire, um dos elementos que ajudaram a disseminar os saques foi que muita gente "percebeu que podia fazer isso sem controle". "Quando viram na TV ou seus amigos contaram que isso estava acontecendo, a coisa saiu do controle. Achavam que podiam fazer o que quisessem sem que ninguém fizesse nada para evitar", afirmou Pitts à BBC.
Uma jovem de Brixton, no sul de Londres, que falou à BBC confirmou essa visão: "Quando as pessoas viram o que tinha acontecido em Tottenham, viram os roubos nas lojas, todo mundo se excitou e pensou: 'Uau! Coisas grátis!' E pensaram que também podiam fazer a mesma coisa."
A sensação de impunidade foi tanta que em algumas lojas era possível ver os saqueadores provando as roupas antes de levá-las.
Gangues
Um elemento que não se pode menosprezar para tentar entender a situação é que os piores enfrentamentos ocorreram nos bairros mais pobres da capital, onde o desemprego juvenil é maior. Como observa Pitts, os bairros com os piores distúrbios, como Tottenham e Hackney, no norte de Londres, e Croydon, ao sul, são locais onde a polícia detecta a presença de gangues. Ele observa também que muitos desses bairros têm "um histórico de confrontação com a polícia".
O escritor e jornalista comunitário Darcus Howe, nativo de Trinidad e Tobago e que mora em Londres há décadas, disse à BBC que não estava surpreso com a violência dos últimos dias. "Escutando meu neto e meu filho, sabia que algo muito grave ocorreria neste país", afirmou Howe, que disse não considerar a violência como um distúrbio, mas como "uma insurreição".
Apesar da posição de Howe, a grande maioria dos analistas e os próprios jovens que deram declarações à mídia nos últimos dias diz que não há um movimento político por trás da violência.
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