O brasileiro Leonardo Boff, teórico da Teologia da Libertação, é um dos 43 teólogos, filósofos e estudiosos das religiões de 15 países que assinam uma carta aberta em favor da comunidade bahá"i do Irã, a ser divulgada neste fim de semana.
A carta denuncia perseguição a integrantes do Instituto Bahá"i de Educação Superior, formado por professores do movimento religioso que estariam proibidos de lecionar em universidades. Nove deles estão detidos, segundo o manifesto.
"Ataques como esses, contra os direitos dos cidadãos de se organizarem e serem educados em liberdade, não podem mais ser tolerados", diz o texto, assinado também pelo americano Cornel West, o canadense Charles Taylor e por Tahir Mahmood, ex-presidente da Comissão de Minorias da Índia.
Criado no século 19, o movimento bahá"i professa uma espiritualidade sem dogmas e foi historicamente reprimido no Irã. Após a Revolução Islâmica de 1979, não foi reconhecido entre as "religiões divinas", como o cristianismo e o judaísmo.
Seus fieis são acusados pelo regime de defender o sionismo, já que o centro espiritual e administrativo da comunidade fica em Haifa (hoje em Israel).
No Brasil, os bahá"is contam cerca de 60 mil adeptos. No governo Lula, o Itamaraty interveio para que o Irã não aplicasse a pena de morte contra sete líderes da comunidade presos.
Para Boff, a repressão aos bahá"is deve-se ao seu universalismo.
"É a religião mais ecumênica do mundo. Não importa o nome de Deus, desde que seja o princípio supremo que rege todas as coisas. Cristãos, judeus ou muçulmanos podem apoiar isso, sem trair suas origens confessionais. É uma religião dos tempos modernos", diz.
O teólogo afirma que sua adesão à carta não significa que condene o ex-presidente Lula por ter se reunido com com o presidente Mahmoud Ahmadinejad e tentado mediar o impasse sobre o programa nuclear iraniano.
"Foi uma tentativa de aliviar a tensão e quem sabe encontrar caminhos de um consenso mínimo", diz o ex-padre franciscano, que abandonou a hierarquia católica depois de condenado ao silêncio pelo Vaticano.
Boff espera que a carta tenha efeito positivo em Teerã. "Há o interesse político de mostrar que estão respeitando os direitos religiosos."
Entre os signatários do texto há nomes de Índia, África do Sul e Gana, países com importantes minorias muçulmanas. Mas nenhum é de países árabes ou outros de maioria islâmica.
Contatada, a Embaixada do Irã não se pronunciou sobre o conteúdo da carta até o fechamento desta edição. Em episódio anterior, a missão disse que os bahá"is "gozam de todos os direitos de cidadania" e que os sete líderes não foram processados por razões religiosas, mas sob a acusação de atuar contra a segurança nacional.
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