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sexta-feira, 24 de junho de 2011

A miséria da lei



Cabe conhecer o sistema de educação no Brasil antes de criticar as reivindicação dos professores e funcionários da educação ou fazer a apologia da história de um fracasso no qual o Estado do Rio de Janeiro é um dos líderes, conforme estatísticas oficiais. Vão prender os especialistas que apontam o real desastre da educação pública no País? 

O pensamento não tem ego nem superego; não acha que, mas é da ordem do saber. O real é mais forte que a opinião, nutrida pela culpa e piedade. Coitados dos alunos! Vão ficar com fome!  Pobres, vão perder o ano!

Primeira confissão: embora temente a Deus, não abro mão do pecado da inveja. Segunda confissão: apesar de fugir dos radicalismos, tenho, sim, uma certa simpatia pelas greves. Na história contemporânea do nosso Brasil, o movimento grevista foi muitas vezes protagonista.

Hoje, no entanto, essas manifestações perderam seu viço. Quase sempre, a leitura que é feita das greves é a leitura do equívoco. Os bancários erram, quando assim decidem atuar, porque atrapalham a rotina econômica do País e a vida do cidadão comum.

Os motoristas de ônibus também, porque desrespeitam o direito de ir e vir. Os professores da rede pública de ensino, da mesma forma, porque enfraquecem a educação, deixando milhares de crianças e jovens afastados das salas de aula.

Longe das compreensões extremistas, que criminalizam qualquer forma de paralisação, há de ter alguma motivação lógica para que os segmentos trabalhistas adotem as greves.

Jogar lama na cara dos professores, tentarem humilhar, destruir psicologicamente os bombeiros em greve, atesta a reação de um poder político iletrado, habituado à prática de violência “legítima” em detrimento da vontade de mutação salarial, ética e social dos trabalhadores. 

Não se percebe que o Brasil ainda não aderiu à cultura de salário, em consequência, não paga a quem trabalha? No Brasil, o assalariado não tem tempo para ganhar dinheiro, donde a farta economia de violência e negócios ambíguos: todos querem ser “empresários”. 

No caso dos bombeiros, o retorno do recalcado, o grito uníssono da população detonou as reações irresponsáveis de políticos antiéticos, oportunistas, e, em sua maioria, desonestos. Há muito mais processos no Brasil contra a corrupção generalizada de políticos que greves de lumpen, cujo salário mínimo, resquício da escravidão, corresponde a mais de 70% dos trabalhadores com carteira assinada.

Alguns anos como formadora de profissionais, Chefe de Reportagem da Ex- TV E, experiência de grande valia, deixam-me a vontade para evitar o discurso de escritório, mais atento aos filhos que estudam em escolas particulares que às grandezas e misérias correntes do ensino público.

Senti na pele a violência simbólica de prefeitos, secretários; a censura explícita, as ameaças de que são vítimas executivos, formadores ou professores. A pobreza, o abandono de muitas escolas é uma vergonha imensurável. O número de prefeituras cujos mandatários foram condenados por corrupção, ou respondem a processos, fala por si.

Esquerdistas e liberais de ontem são os carrascos de hoje? Não é a primeira vez que se fala de fascismo de esquerda. Deve-se aceitar a fatalidade: toda minoria, ao se tornar maioria, adere ao despotismo e é tomada por uma amnésia que faz dela lacaio, menino de recado, ou nova categoria de bandido social?

Ao espancar professores, via polícia, vítima também de salários aviltantes e formação descartável, será que vereadores, representantes de uma oligarquia social, defendem algo que não seja eles e seu clã? Alguns políticos são donos de escolas, creches privadas etc., aí a formação é outra. O salário é outro.

Quando a lei é fora da lei, deve-se ainda obedecê-la? Qual a legitimidade de uma classe política que faz do País um clube de partilha de poderes e cargos públicos ancorados no dinheiro fácil e na democracia dos negócios?

A democracia à brasileira lembra Platão: “Regra geral: toda palavra dirigida a um escravo deve ser uma ordem.”

O deus do superego, bem pensante, tão legalista, é de fato o inimigo da liberdade, ele a perverte e se torna tirânico sob sua inspiração. A deflação de leis leva à inexistência da lei, à miséria da lei.
ANGELA ALCANTARA- JORNALISTA

Um comentário:

  1. Ângela Alcântara.

    Não sei quantas matizes tem o momento de greve aqui entre nós. Vejo problemas desde o governo do Estado por Brizola. O que fez este Senhor, entrou para conversar com os professores em greve aqui no Estado, e só faltou entrar em luta corporal. Desde então as greves pediram a força. Explica-se um grande sucesso nas conversas com os governos, enquanto a inflação era alta. Aqui na nossa Prefeitura tínhamos constantes encontros para ajustar os salários, pois em pouco tampo ficavam defasados.Acho a greve dos Professores ruim, pois nos leva a uma exposição de desprestigio perante os alunos, e muito especialmente
    guando os resultados são pífios.
    Na realidade temos que fazer educação destro da ótica do profissionalismo e não político. Penso que a grande derrota da educação, está neste clivo a adequação do ensino esta sempre se adaptando as acomodação políticas, interesses imediatos. O horror deste é o fracasso de nosso pais. O que fazer?
    A greve deveria ter solução ao ser anunciada, mais para fazer mais políticas, na maioria delas sem progressos ou muito pequenos, em contra partida perdemos a moral perante aos nossos alunos, para quem deveríamos ter uma moral ilibada.
    Não devemos nunca dar uma passo, sem ter certeza que podemos, isto aconteceu no magistério, o que nos levou a um desprestigio muito grande.
    Como que o professor agredido dará aula para o seu aluno, no mínimo será inócuo.
    Para por aqui, pois temos que fazer uma profunda reflexão, e isto vai demorar, e estou cético quanto aos resultados positivos.

    Francisco A. Eccard - Professor de História e técnicas.
    Tenho 20.000 alunos que são para mim uma vitória, pois reconheço-os como meus amigos, e vitoriosos.

    Continue o seu trabalho, pois ele nos dignifica.
    Temos que ter muita qualidade e você tem.

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