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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

                   

Greve: governo agora corre atrás do prejuízo



 Há hoje um consenso no Palácio do Planalto de que o governo federal demorou demais para se dar conta do tamanho da encrenca da greve do funcionalismo, que se alastrou por todo o País e já atinge mais de 30 categorias de servidores públicos.
A ordem agora é correr atrás do prejuízo e voltar a negociar com as lideranças sindicais, depois das ameaças feitas pelo governo de cortar o ponto e contratar substitutos para os grevistas.
A decisão de deixar o assunto por conta de burocratas do segundo escalão do Ministério do Planejamento revelou-se furada e agora o governo busca novos interlocutores para retomar o diálogo.
O principal deles é José Lopez Feijóo, 62 anos, assessor da secretaria-geral da Presidência, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e ex-vice-presidente da CUT, até passar para o outro lado do balcão e entrar para o governo no ano passado na equipe do ministro Gilberto Carvalho.
Espanhol nascido na cidade de Entranbosrrios, sindicalista da turma de Lula em São Bernardo do Campo, onde começou na comissão de fábrica da Ford no início dos anos 80, muito próximo do ex-presidente e com livre trânsito entre as centrais sindicais, Feijóo terá a tarefa de preparar o espírito da companheirada para o reajuste parcial que deverá ser anunciado pelo governo até o final da próxima semana, bem abaixo das reivindicações do funcionalismo e sem atingir todas as categorias.
Nos oito anos de governo Lula, também tivemos greves de servidores públicos, mas não na dimensão que atingiu o movimento neste ano, desencadeado em áreas dominadas, especialmente na educação, por sindicatos ligados ao PSTU e ao PSOL, partidos radicais formados por dissidentes do PT. Com receio de perder o bonde, sindicatos ligados à CUT também aderiram à paralisação, o que deixou a presidente Dilma particularmente contrariada.
Desta vez, inverteu-se o processo nas negociações. Com Lula, quando chegava a época das campanhas salariais do funcionalismo, primeiro era mobilizado o então secretário-geral Luiz Dulci, um discreto professor mineiro, que auscultava as centrais e procurava conciliar as reivindicações sindicais com os limites impostos pela área econômica, antes que estourassem as greves.
Neste ano, Gilberto Carvalho, o substituto de Dulci no cargo, só entrou em campo na última quarta-feira, quando o clima já era beligerante e os dois lados se recusavam a ceder. Por isso mesmo, o ministro queimou seu filme — acabou sendo xingado e vaiado num encontro da CUT, o braço sindical do PT, uma cena inimaginável no governo anterior.
O impasse tem data para terminar: 31 de agosto, prazo final para o governo enviar a Lei de Diretrizes Orçamentárias ao Congresso Nacional, indicando qual a verba prevista para o reajuste dos servidores públicos.
Até lá, o baixinho Lopez Feijóo, com sua fala mansa, vai ter que encontrar uma fórmula mágica para acalmar seus colegas sindicalistas, sem estourar o cofre do governo. Não vai ser fácil.
Afinal, se fosse atender a todas as reivindicações dos servidores em greve, o governo teria que dobrar a folha de pagamento do funcionalismo público federal, que já passa de R$ 100 bilhões por ano, numa conjuntura que exige corte de gastos para enfrentar as consequências da crise econômica mundial.

    

Dilma enfrenta maior desafio do seu governo



    

Greves dos servidores públicos federais, dos mais diferentes setores, alastram-se por todo o país, e não há solução à vista. Segundo as centrais sindicais, já são mais de 300 mil funcionários parados, praticamente a metade do quadro de servidores civis da União.
O Ministério do Planejamento contesta estes números. O fato é que a multiplicação das greves constitui um problema da vida real dos brasileiros, que afeta o seu dia a dia, ao contrário de mensalão, CPI e eleições municipais, questões políticas que até aqui dominavam o noticiário, mas das quais o governo conseguiu ficar distante.
Com a inflação em alta e a queda na atividade econômica, há no momento uma conjugação de fatores negativos que fazem a presidente Dilma Rousseff enfrentar o maior desafio dos seus 19 meses de governo.
Se ceder aos grevistas, que já tiveram dois generosos pacotes de reajustes salariais nos últimos anos do governo Lula, isto vai pressionar ainda mais a inflação, outro problema que é sentido no cotidiano dos brasileiros.
De 2003 a 2012, os servidores do Executivo tiveram aumentos salariais de 170%. No mesmo período, o país registrou uma inflação acumulada de 70%.
De outro lado, se serviços públicos essenciais continuarem parados, isto representará um grande desgaste para o governo, preocupado em manter a dívida pública sob controle num contexto de crise econômica mundial, que já afeta o país.
É aquela velha situação do se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Para agravar o quadro, tivemos mais uma semana de impasse nas negociações, depois de Dilma colocar em campo diferentes interlocutores, a começar pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
Bombeiro de plantão no Palácio do Planalto, o secretário-greral Gilberto Carvalho foi chamado para dialogar com as centrais sindicais, mas a sua primeira intervenção, na quarta-feira, só colocou mais lenha na fogueira.
Vaiado e xingado de traidor num congresso de trabalhadores por manifestantes da CUT, o ministro, que sempre foi ligado ao movimento sindical, ouviu a platéia gritar "A greve continua. Dilma, a culpa é sua!" _  e respondeu no mesmo tom.
Sem diálogo, no fim da tarde foi chamada a polícia para evitar que os manifestantes subissem a rampa do Palácio do Planalto. Na mesma hora, no Rio, uma operação padrão de policiais rodoviários causou um enorme congestionamento de 20 quilômetros nos dois sentidos da Ponte Rio-Niterói.
Estradas em oito Estados também ficaram paradas pelo mesmo motivo. No aeroporto do Galeão, no Rio, agentes da Polícia Federal fizeram uma operação-padrão, infernizando a vida dos passageiros, e prometem fazer o mesmo nesta quinta-feira em São Paulo, no aeroporto de Cumbica, e no porto de Santos.
As universidades federais estão paradas já faz quase três meses. Remédios importados retidos em depósitos pelos orgãos sanitários começam a faltar nos postos de saúde.
Este foi um dos assuntos tratados por Dilma no encontro de mais de três horas que teve com o presidente Lula em São Paulo, na última segunda-feira. A presidente responsabilizou a CUT pelas greves dos servidores públicos que se ampliam em vários setores e os dirigentes sindicais se queixam da falta de diálogo com o governo.
No meio desta guerra de posições cada vez mais antagônicas, sobrou para o ministro Gilberto Carvalho. "Se eu fosse presidente, destituía o ministro", afirmou o novo presidente da CUT, Vagner Freitas, algo até há pouco inimaginável nas relações entre o governo petista e as centrais sindicais.
Em casa onde falta pão, como se dizia antigamente, todo mundo reclama e ninguém tem razão. E na sua cidade, o que está acontecendo?. Os leitores poderiam contribuir com o Balaio contando de que forma as greves do funcionalismo estão afetando o seu dia a dia. Escrevam!
                                                                                                                                                                    

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