A história muda através do resgate dos fatos ocorridos no passado nos possibilitando no presente releituras e resignificações. A história que não pode ser revelada fica muda e assim não muda nada, permanece a mesma prática passada no presente.
Causou-me pasmo e indignação a desistência da presidente Dilma Rousseff de revisão da Lei da Anistia alegando medo de “revanchismos”. Quando ministra da Casa Civil, Dilma defendeu a revisão da Lei da Anistia. O que mudou agora quando tem o “poder” de fazê-lo?
Ouvir dos ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor que acabar com o sigilo eterno de papéis considerados ultrassecretos causaria constrangimentos para a nação é esperado, dado o histórico político de ambos. E o histórico de nossa presidente? A quem interessa mesmo essa mudez toda sobre o nosso passado político?
O medo do “revanchismo” que alega a nossa presidente é um risco que se corre quando lidamos com a memória. Geralmente ele ocorre quando confundimos a indignação e a ira com o ódio. Quando a memória é simplesmente apagada ou rasurada o ódio ganha terreno e abre espaços para justificativas infundadas de uma prática duvidosa.
A ira e a indignação são facilmente confundidas com o ódio, mas na verdade não passa de sua antítese. Na realidade, a ira é a fonte legítima de sua ilegítima conversão em ódio. O ódio é a ira acumulada, desqualificada e corrompida. Nada mais sadio do que a ira em seu sentido próprio.
Segundo Alceu Amoroso Lima, a ira manifesta o protesto espontâneo ou intencional contra toda negação da verdade, da bondade e da beleza. A ira é um estado fluído, como o da memória, enquanto que o ódio um estado compacto. Enquanto a ira esta sempre aberta ao perdão, ao arrependimento e à conversão, o ódio é o caminho natural para a vingança, o rancor e o ressentimento. Nietzsche considera o ressentimento como um dos estados de espírito ou de ação mais hostis ao bom convívio humano.
A ira é uma prova de caráter e honra, de consciência da dignidade natural
de cada ser humano. Sua ausência é um sintoma patente de falta de caráter que representa o grau ínfimo da degradação moral, do amorfismo, do tanto faz.
As lutas de classes ou as guerras e revoluções são palcos vulneráveis nessa conversão da ira em ódio, do legítimo catastrófico.
Enquanto for negado, rasurado ou justificado o passado político nacional ficaremos condenados a reproduzir o mesmo mascarado de novo. Nossa democracia acaba reproduzindo práticas da ditadura em nome de um poder que ninguém quer perder.
No final perdemos todos, porque o único poder verdadeiro é o da transformação e mudança. O Brasil com sua história permanece, os políticos passam...
ANGELA ALCANTARA - JORNALISTA
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